31 de dez. de 2009

OS HOMENS QUE ODEIAM AS MULHERES (filme)


















Depois de ler o livro de Stieg Larsson - o primeiro da série Millennium com o nome de Os Homens que Odeiam as Mulheres, traduzido para inglês com o título The Girl with the Dragon Tattoo, vi agora o filme sueco-dinamarquês que é a primeira das adaptações ainda escandinavas. Nunca esperei vir a dizer que anseio pelas versões americanas e que sairão algures durante o próximo ano, para que se apague da minha memória esta péssima adaptação que vi ontem.

Além de centrar toda a história em torno de Lisbeth Salander - a tal da tatuagem com o dragão, aproximando-se aqui do Red Dragon - a história perde-se em infinitos detalhes que a deixam a  perder em relação ao livro. É certo que seria tarefa complicada transportar para o cinema uma obra de 500 e tal páginas e tão densa em personagens, genealogias e acontecimentos. Mas poderiam ter feito muito melhor, até porque lhe aponto dois grandes e graves erros:

1 - o filme foi feito para quem tenha lido o livro - fãs, portanto - mas apaga-lhe características importantes que - ironicamente - fizeram com que o livro fosse o sucesso que fosse. Assim nenhum fã ficará satisfeito e quem veja o filme sem ter lido o livro terá que recorrer a este para preencher os muitos buracos da história.

2-  o guião é ele todo um grande erro! Aponto-lhe milhentas falhas que fazem perder o filme em relação ao livro. E se é certo que um filme nunca poderá chegar à densidade que um livro oferece, este poderia e deveria ter ido mais além na construção do livro de Larsson e na sua muito esperada passagem para o cinema. Além do notório erro de casting na selecção da actriz para Lisbeth (eu vejo-a como a Nikita de Besson e como tal seria perfeita - misto de adolescente púbere e femme fatale, tal como no livro) outros erros saltam à vista, como geográficos (a ilha que funciona no esquema de sala fechada como nos clássicos da literatura policial) e que aqui não é assim mostrada, as relações de Michael que são importantes para o fluir da história e para os avanços das suas descobertas (e que no filme desapareceram) e muitos outros (como o polícia estar ainda no activo, as imprecisões de nomes e passados, o revelar tardio da morte de Gottfried, a morte precoce de Anita, etc).

Este filme é um rotundo falhanço e uma péssima homenagem ao livro. Venham os americanos, por favor!

Visto por LX - Flores Sessions

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BUFFALO 66


















Vi finalmente o filme Buffalo 66 de Vincent Gallo - produzido, realizado, composto e protagonizado por este. Agora falta-me o The Brown Bunny - o polémico TBB. Buffalo 66 é um bom filme, é aquilo que esperava, ou seja, um pequeno épico sobre um anti-herói marginal - oprimido, acossado, abusado, agressivo, à margem da sociedade e completamente ignorado pelos pais.

Ao sair da prisão e na expectativa de reencontrar os pais - que acreditam que ocupa posição de destaque num serviço governamental - encontra uma rapariga para que se faça passar por sua mulher. É necessário dizer que o seu interesse é eliminar o jogador de futebol que falhou uma jogada no SuperBowl fazendo com perdesse uma aposta - tendo para isso e para pagar uma dívida para com o mafioso que lhe deu crédito (um pequeno papel de Mickey Rourke) tomar culpa e ocupar o lugar de um criminoso na cadeia. É necessário dizer também que a rapariga que rapta acaba por se apaixonar por ele e em isso, relutantemente, ele lhe retribui.

Falhando na vida, falhando como marginal e afectivamente um desastre é dessa partilha do seu difícil progredir diário que vive o filme. E é bom, é um road movie urbano - um Kerouac feito filme que me lembra o díptico do Coppola - Rumble Fish e o The Ousiders, mas com um homem só.

Visto nas Flores Sessions, Lisboa

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30 de dez. de 2009

ÁGORA


















Este foi o filme mais honesto que me recordo de ter visto sobre a época clássica. Dos que me vou recordando enquanto componho estas linhas não encontro nem um em que o interesse histórico e a curiosidade fílmica não tenham sido ultrapassadas por um gostinho demasiado acre a falta de rigor histórico. O recurso à espectacularidade é desnecessário, mas convenhamos, um filme é um produto comercial e alguns dos ingredientes acrescentados a (por exemplo) Gladiator, 300, Cleópatra, Ben Hur, Quo Vadis, Spartacus e outros tantos, só os fizeram ficar mais apetecíveis enquanto produto e portanto, mais vendáveis.

Em Ágora encontram-se alguns retoques ao guião com esse propósito mas nada que o estrague verdadeiramente, até porque a incursão americana de Amenábar não é assim tão profunda (desde The Others e seguido por Mar Adentro). Ágora conta a história da filósofa / astrónoma e matemática Hipátia de Alexandria no Século IV. Encontramos o Império Romano em decadência e em plenas lutas religiosas - os diversos grupos confundem-se com os estratos sociais e afirmam-se com crescente extremismo e violento antagonismo. Se os pagãos são ainda a classe política e intelectual dominante dos cidadãos patrícios romanos e os judeus os comerciantes, são os cristãos - ainda não divididos pelo primeiro Cisma - que constituem o grosso das classes baixas e da classe escrava. Enquanto o Império se desmancha é no seu seio, muito alimentado pelas diferenças económicas e sociais, que frutifica a religião cristã em detrimento das anteriores divindades (e hierarquia social) do Império. Hipátia pertence à classe dirigente de origem helénica - ensina na Biblioteca de Alexandria e preocupa-se apenas com o avanço do conhecimento filosófico, longe das terrenas questões teológicas.

A história de Hipátia - que se encontra documentada - é extremamente bem contada e serve para nos introduzir dentro da época conturbada de então, o rigor histórico é extraordinário (sobretudo na reconstituição da cidade de Alexandria e da sua biblioteca, por via de maquetes e computação gráfica), os desvios são mínimos e destinam-se a adocicar a história (a morte de Hipátia é bastante mais leve no filme do que o foi realmente - presume-se) e a tornar o filme emocionalmente mais acessível (o amor platónico do escravo de Hipátia por esta e o seu interesse pela astronomia). O único erro que aponto a Amenábar é a recriação do líder religioso cristão como um fanático - o que até pode não andar muito longe da verdade, não fosse a actuação do actor se aproximar perigosamente à ideia que temos de extremista e terrorista.

O filme é excelente e recomendo. Deslumbrem-se como eu com as vistas aéreas de Alexandria.

Visto contigo - Picoas, LX

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22 de dez. de 2009

AVATAR


















Não é arbitrário que eu considere Avatar insuficiente e não o considero assim por tomar de ponta o cinema dito “mainstream” norte-americano (ou seja, os filmes saídos do ventre da poderosa máquina dos estúdios norte-americanos - lide Hollywood - em oposição ao cinema independente americano e em forte contraste com o cinema europeu e os fenómenos Bollywood e Nollywood).

É precisamente por ser um seguidor entusiasta do cinema de aventura e entretenimento com o qual etiqueto Avatar (definitivamente mais próximo na forma de um Indiana Jones do que de um Star Trek), que o questiono por ser exigente com esse formato - não destacando um cinema de autor em detrimento de um cinema de massas. É exigência e não purismo, pois seria absurdo apelar a uma pureza num género que se resume em não se resumir.

(...)

Leiam a crítica completa na Revista Take n21 em http://take.com.pt

UNS BELOS RAPAZES


















A curiosidade maior é ver que este filme é uma adaptação do comic realizado pelo próprio Riad Sattouf - que recupera a sua obra e aqui a transforma em filme. A paisagem de subúrbio francês é facilmente perdida em devaneios de acne e de bullies de escola e o que poderia ser uma possibilidade interessante para escalpelizar as diferenças sociais e culturais francesa é perdida - assumindo que existem e não apenas as aflorando sem as escavar minimamente como aqui.

Eu não peço um novo La Haine nem peço que tudo o que venha deste meio se preocupe em mostrar o feio e o real - mas também estou farto de filmes ocos em que o acontecimento mais explosivo seja o de o rebentamento de uma borbulha ou o espionar dos vizinhos da frente enquanto se banqueteiam em sexo.

Apesar de tudo, gargalha-se neste filme - mas só. A secura de garganta veio depois e ao me perguntarem que descrevesse com alguma exactidão o que tinha visto já as palavras se atropelavam tentando constituirem-se em frases. É difícil resumir o não resumível por falta de substância. Ficou o grito pela aparição dos primeiros pêlos púbicos.

Visto no King - LX

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RIDICULE


















Ridículo é ter visto um filme que podia até ser sido interessante com legendagem em inglês mal feita. Como o filme vive do jogo da palavra, do axioma e da parábola e o meu francês não lhe chega a tanto - vi-me limitado a pouco mais do que ir entendendo a espaços o que esta obra de intriguismo palaciano e de alcova ia discorrendo.

Sub-titulagem em francês teria sido melhor e perde-se a hipótese de lhe achar apenas alguma graça quando poderia ser mais do que engraçado. Similar no estilo a um Barry Lyndon e recordando-me na forma o Ligações Perigosas ficou no entanto o sabor de algo que faltava - o esquivar a uma conclusão capaz contribuiu para tal, mas assumo que o não entendimento total do jogo da linguagem de que vive o filme tenha talvez feito com que dele não gostasse.

A repetir.

Visto em LX - Flores Sessions.

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O LAÇO BRANCO












Palma de Ouro de Cannes em 2009 e multi-premiado filme austro - whatever - alemão, este não é decididamente um filme tipo de Haneke. Mais do que um filme delimitado por desconfianças territoriais, financiado a partir de diversas localizações europeias, contando com um alinhamento de actores sobretudo austríaco, filmado e retratando uma cidade alemã - o filme é de Haneke e também um produto europeu.

Tem condimentos de Haneke mas afasta-se do que poderia ser categorizável como absolutamente seu. Mais do que um produto com uma marca - é este filme uma marca e deixa alguma marca. A vida de província corre monótona a preto e branco mas é interrompida por pequenos crimes que permanecerão por decifrar. Assiste-se a movimentos sub-reptícios e demasiadas palavras que ficam por dizer - ou umas quantas outras que se gritam quando não eram necessárias - e a atmosfera geral é pesada, claustrofóbica e geradora de confusão. Haneke portanto. Mas falta-lhe bastante mais de jogo mental e de mal-estar para que sejam mais do que uns simples "Funny Games".

O postal que é gerado preocupa-se mais em mostrar a vida pachorrenta e a tempos brutal de uma vilória germânica pouco antes do eclodir da primeira grande guerra.

Visto em LX - Flores Sessions

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21 de dez. de 2009

OS HOMENS QUE ODEIAM AS MULHERES


















Foi-me oferecido e apresentado como um libelo feminista, coisa que vim a verificar não corresponder - com exactidão - à verdade. Este é um livro de literatura policial sueco e, passe as curiosidades, escrito nas horas vagas por Stieg Larsson, activista feminino e social que faleceu ainda antes de os livros - este é a primeira parte da trilogia Millennium - fossem publicados. Depois de um sucesso de vendas galopante em 2008 e depois também de adaptados ao cinema na sua língua materna, já se fala de adaptações americanas (surge sempre um remake made in Hollywood quando o hype gerado é dramático como aqui foi).

Gostei verdadeiramente do livro e mal posso esperar pelos restantes e pelos filmes - que me preocupo em sacar ainda antes que estreiem todos. Fiquei contaminado pela personagem central, pela anti-heroína Lisbeth Salander (lembra-me Nikita do Luc Besson) e pelas atribulações da demasiado disfuncional família Vanger. É uma leitura que recomendo vivamente. Só para que percebam ao grau que cheguei de avidez ao lê-lo é que me tomou apenas três dias e o romance tem 500 e pico páginas.

Lido por LX


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4 de dez. de 2009

Nativity!


Martin Freeman é o professor Maddens indicado para dirigir a peça de teatro de Natal da escola onde trabalha; para o ajudar é-lhe atribuído um assistente (Marc Wootton) completamente "fora do normal", mas que faz imenso sucesso entre as crianças. Um pequeno desentendimento faz com que a escola se torne notícia ao tornar-se público que Hollywood vai filmar a peça e torná-la num filme! Como irá o professor resolver esta situação?...

Ri-me imenso com este Nativity!. Muito cómico mesmo! Cheio de situações hilariantes com um desempenho muito bom das crianças, assim como dos dois actores principais.


3 de dez. de 2009

Rumba


Rumba é um filme muito interessante, super colorido, cheio de ritmo e movimento e também alguma fatalidade. Embora o acidente, que transforma a vida destes dois fãs de dança, seja trágico, é interessante ver como o optimismo permanece e não deixa a fatalidade vencer.
Uma lição de vida? Talvez sim (sejamos optimistas!) :)

Think Again - WWF

Cá vai mais um vídeo que mostra o porquê da importância de se ser "verde".

24 de nov. de 2009

Pigeon: Impossible

Esta curta está fantástica! Atentem nos detalhes tão bem apanhados!

Aeroplane Video

Vídeo que mostra a relacção entre aquecimento global e destruição das florestas.

1 de nov. de 2009

Operação Valquíria


Estava tão farta de ver filmes relacionados com a 2a Guerra Mundial, e nazis e campos de concentração e mais não sei o quê, que quando me sugeriram este filme, pensei: "Oh não... Outra vez? Já não há paciência!".
Mas afinal este filme surpreendeu-me. Os factos verídicos sobre os quais este filme se baseou, surpreenderam-me.

Sabiam que existiram 15 tentativas de assassinato a Hitler por parte de alemães? Incluindo alemães que se encontravam em posições muito próximas de Hitler?

Este filme mostra o outro lado da 2a Guerra Mundial que poucas pessoas sabem que existiu.

Há sempre um "outro lado da história"!

20 de out. de 2009

Magnolia

Finalmente o vi. E devo dizer que fui uma resistente. A primeira vez que o comecei a ver... adormeci. Não tem nada a ver com a qualidade do filme. Quem me conhece sabe que me encosto assim que entra o genérico de um filme. Ontem à noite foi impossível adormecer.

Magnolia é uma rede de histórias que se cruzam, o que me fez lembrar o 21 gramas. Mas o argumento é muito mais intenso e os actores muitíssimo bons (principalmente o Tom Cruise!). Claudia é uma toxicodependente que foi molestada pelo pai, que é apresentador de um programa de TV tipo «Sabe mais do que um miúdo de 10 anos?», que é produzido pelo Earl, um velho moribundo que morre assim que vê o filho, que é representado pelo Tom Cruise, um guru sexual que ensina aos homens como enganar as mulheres. E isto só para simplificar.

O momento que marca a mudança da vida das personagens - Claudia conhece um polícia que se apaixona por ela, Frank Makey (Cruise) chora pela morte do pai, Donnie quer devolver o dinheiro que roubou - é quando cai uma chuvada de... SAPOS!! Num filme tão realista de onde é que vinha esta cena aparentemente surreal?? A verdade é que chuvas de animais acontecem! E há descrições religiosas (a Bíblia fala de uma chuva de sapos numa das 10 pragas do Egipto), descrições científicas (está provado que ventos fortes recolhem animais presentes numa área relativamente extensa, e deixam-nos cair, em massa e de maneira concentrada, sobre um único local) e descrições do além (é obra de extra-terrestres).

Este é daqueles filmes que não basta ver uma vez. E aposto que todas as vezes que o vir vou dar conta de simbolismos e ideias subliminares que escaparam à primeira.

30 de set. de 2009

A Viagem do Elefante



O livro A Viagem do Elefante fez-me companhia durante a viagem que, ainda, ando a fazer.
O livro, terminei-o há pouco; a viagem, termino-a em breve.
José Saramago mais uma vez me prendeu às páginas de um livro. Este relata a viagem do elefante Salomão e do conarca Subhro através da Europa do século 16, com partida em Lisboa e com destino a Viena de Áustria. O elefante é oferecido pelo rei D.João III ao arquiduque Maximiliano da Áustria. A viagem baseia-se em factos históricos, mas o enredo deixa-se levar pela ficção deliciosa a que José Saramago nos habituou.

20 de set. de 2009

RAPA NUI



Vi este filme porque se desenrola na e sobre o meu mais desejado destino de viagem, a ilha de Páscoa, no Oceano Pacífico e pertencente ao Chile. Eu tenho um fascínio especial por ilhas e ainda mais por ilhas que contêm uma civilização original que caminhou confinada rumo a uma avançada cultura. Desde a temporada nas Berlengas e a estadia continuada nas ilhas da Ria Formosa que o desejo veio crescendo e já não me chega apenas a acostagem a Almourol, ao Pessegueiro e ao Bugio. Eu quero Cuba, eu quero Mount Saint Michel na Normandia ou o Saint Michael Mount na Cornualha, eu quero Ilha de Moçambique, eu quero o Corvo, eu quero Gorée em Dakar e eu quero absolutamente a Ilha de Páscoa.

Graficamente chamada de Umbigo do Mundo (Rapa Nui) pelo claro isolamento e depois chamada de Páscoa pelos pouco originais e inexoráveis exploradores europeus, esta ilha que foi povoada por incansáveis povos polinésios criou uma alta cultura alicerçada em fortes crenças religiosas que levaram à construção de milhentas estátuas de divindades em santuários de Moai e ao estabelecimento do culto do Homem-Pássaro. A par com esta construção desenfreada foi desenvolvida também um sistema de escrita único e que permanece por decifrar na sua totalidade. Ao que parece o povo estabelecido na ilha foi conquistado e submetido por outro povo entretanto chegado e a guerra civil que estalou entre os dois povos acabou por ser a chave para a sua decadência - finalizado entretanto com o contacto com os insaciáveis europeus.

O filme encontra-nos no meio da competição entre os dois povos - os Orelhas Grandes e os Orelhas Pequenas. A corrida da personagem central em construir um Moai em tempo recorde e de conquistar o ovo e assim adquirir o título de Homem-Pássaro servem de veículo e de reconstituição da sociedade ultrareligiosa e socialmente estratificada de Rapa Nui. O que obtemos é um filme documento simpático que é sobretudo delicioso para fanáticos desta ilha como eu - o romance da personagem principal com uma rapariga que pertence ao outro grupo, serve como tempero talvez um pouco forçado mas ainda assim credível, para um documento histórico interessante.

Visto ali.
Enlace | http://www.imdb.com/title/tt0110944

O PRÍNCIPE



Sempre me surpreendeu o axioma utilizado em português para nos referirmos a algo que achamos calculista e maldoso - o adjectivo maquiavélico. Aparte se parecer foneticamente com bélico a palavra deixou-me curioso em demasia até conseguir deitar a mão a um dos seus livros mais conhecidos e que ganhou notoriamente estatuto de clássico e que é este livro que vos trago aqui - O Príncipe.

Para melhor ler este livro há que conhecer também a história de Niccolo Maquiavel, que intercala períodos de brilhantismo sob o ducado de Florença com alturas de caída em desgraça. O livro é um panfleto que surgiu numa época conturbada para o escriba e que lhe serviu como unguento e homenagem destinado a cair novamente nas boas graças do todo poderoso governante do Grão Ducado da Toscana, Lourenço de Médici.

Oferecido por Maquiavel ao estadista como seu único possível presente em todos os possíveis presentes - o escritor reforça a ideia de que a sua única graça é a escrita e que nada mais poderia ofertar - O Príncipe é uma colecção de observações e um guia inteligente para a compreensão da governação dos povos e do papel e comportamento do governante para que melhor governe ou para também que mais e melhor usufrua e mantenha os seus estados conquistados.

É interessante reparar que a edição que tenho em casa foi comentada por Napoleão que usou o livro como cartilha antes e ainda durante a sua conquista da Europa. É delicioso estudar o seu comportamento, as suas afectações e a sua arrogância que finalmente o perderam com a Guerra Peninsular e o General Inverno. Ao ler o livro de Maquiavel lembrei-me doutro livro do género - A Arte da Guerra de Sun Tzu que também já comentei por aqui.

E ao lê-lo percebi perfeita e finalmente o significado de maquiavélico. É de calculismo e de diplomacia que é feito o livro, é sobre a perfeição e idealização do estadista que discorre o livro, é sobre o governo ideal que nos fala Maquiavel e é sobre a necessidade da inteligente aliança ou declaração de guerra em determinado momento providencial que leva a que o príncipe se mantenha como incontestado e eterno governante sobre os seus estados. A palavra que surgiu reflecte esse modo calculista e diplomata de estudar o problema e lhe aplicar a melhor solução - não necessariamente a última ou a que leve a avançar, mas sim aquela necessária em que o recuo e a passividade surgem como virtudes de espera e de sobranceria.

É de ler - é de estudar. É um documento histórico necessário e de perfeita compreensão das mentalidades e intrigas da Alta Idade Média italiana.

Relido por LX em saltitando.

DISTRICT 9



District 9 é um filme genial dirigido por Neill Blomkamp e produzido pelo agora omnipotente Peter Jackson, que veicula e patrocina uma extraordinária primeira obra do primeiro. Fiquei surpreendido com o filme quando me mostraram o trailer - ainda mais quando percorri o site e então, quando finalmente o vi, foi a apoteose!

O filme é verdadeiramente incrível e um dos melhores que vi desde sempre do género. E que género é esse? Aqui está a questão, pois se temos sempre tendência quase inconsciente a compartimentar tudo, colando rótulos e etiquetas a tudo o que consumimos, também se torna cada vez mais usual que lidemos com objectos como estes: híbridos, sem um rótulo consensual, com uma mensagem clara transmitida por não tão claros mecanismos. O filme é sci-fi naturalmente, mas abraça tanto a questão política e social que se assume um novo género que me atrevo a chamar de Sci-fi Realism em evocação ao Neo-Realismo italiano que tinha como temática as classes operárias e à margem da sociedade.

A mensagem clara é a da incompreensão e segregação de um povo perante outro. A referência política e real é o regime opressivo e discriminatório do Apartheid e o povo que oprime é o humano e o oprimido um grupo de aliens que foi confinado a um distrito de subúrbio de Joanesburgo que se transforma num gueto militarizado onde os aliens - apelidados de Praws - se vão multiplicando até atingirem quase 2 milhões. Esta é a imagem mais forte e sobretudo sarcástica e cínica dado que é sobre um novo grupo de marginalizados que não os povos negros africanos que recai a própria teoria segregacionista que tanto os afectou. Aqui os extraterrestes são os oprimidos há já duas décadas tanto por negros como por brancos relevando que o ser humano é sempre devedor de incompreensões perante as diferenças.

Além do local filmado e do objecto do filme serem completamente originais, outra qualidade dos ETs é diferente da grande maioria de filmes sobre visitantes do espaço: eles são pacíficos e pretendem apenas voltar a casa - a nave mãe paira sobre a cidade mas é-lhes impossibilitado o regresso a ela por não possuirem o módulo de ligação.

O ET phone home em terras sul-africanas é o mote para um filme que surpreende também em efeitos especiais e nas referências fílmicas e históricas utilizadas - Cloverfield pelo suporte utilizado da câmara digital e pelo subterfúgio em que se desenrola a história, no primeiro era uma gravação que era posteriormente encontrada e que seria entremeada com uma gravação de férias e de um encontro/desencontro de um par amoroso.

Aqui é o recurso a terceiras testemunhas, seja pelas reportagens à distância dos canais de televisão, seja pelos documentários de trabalho de campo da MNU (Multi-National United - organismo militarizado responsável pelo controlo e policiamento do gueto onde os aliens estão localizados). O Apartheid está sempre presente seja na memória colectiva seja nos cartazes que segregam os aliens dos humanos. E a transferência necessária que a MNU tenta empreender (mudança em massa dos aliens do distrito 9 para um novíssimo mas não menos precário distrito 10 - mais afastado da cidade e por crescente insistência da população desta) é similar aos guetos e às transladações nazis.

Sharlto Copley está perfeito no seu papel do trapalhão agente da MNU, Wilkus e na verdade, toda a equipa de actores está tremendamente credível. Vejam o filme porque valerá bem a pena, está fantástico como se quer.

Visto nas Vasco Tardio Sessions ao Saldanha
Link | http://www.d-9.com

31 de ago. de 2009

LISBON ENCOUNTER




Tinha que trazer este à baila até porque tive papel participante nele (assim como no Guia Lonely Planet Portugal). Colaborei muito próximo com a editora no Encounter e através dela ainda tive voz no Portugal. Coadjuvei-a sobretudo nos segmentos dedicados À arte contemporânea e street art e à vida nocturna ecléctica e desconhecida.

Espreitem ambos e talvez se surpreendam descobrindo algo que desconheciam sobre o nosso país.

Link | Lisbon Encounter

25 de ago. de 2009

KAFKA À BEIRA-MAR



Ofereceram-me este livro de Murakami em Abril de 2007 - e se vos causa surpresa por só agora o ter lido (ou se não causa de todo pela minha implícita estupidez de ser tão lento leitor pelo facto de ter levado 2 anos e meio a ler um livro). Eu explico. Chegou-lhe a vez no meu monte de leitura, no meu pináculo de livros estacionados junto à cama, empilhados montando uma mesa de cabeceira. Vejo de seguida o Príncipe de Maquiavel, que agora releio.

Kafka à Beira Mar, é um dos ovnis mais saborosos que li ultimamente - o último que retenho que tenha lido e que era assim tão complexo e tortuoso terá sido o Fight Club de Palahniuk. Murakami constrói um labirinto de história que ao invés de correrem paralelas como parece inicialmente - convergem em apoteose de final de filme trágico. As duas personagens centrais - que nunca se tocam mas se vão aproximando em rota de colisão sem colidirem directamente mas provocando uma erupção de tragédia grega - Nakata e Kafka, vivem um rol de acontecimentos e provocam reacções em cadeia que lhes assistem aos propósitos que são para eles próprios desconhecidos.

O livro é um Lord of the Rings, este livro é uma verdadeira tragédia grega, é a epopeia de Ulisses escrita por Homero e reescrita por Murakami (ele próprio que estudou teatro clássico) e onde se revelam diversas constantes na obra do escritor nipónico: a música clássica e o jazz (Murakami foi dono de um bar de Jazz), o teatro e a literatura clássicas europeia e japonesa e o dono de bar solícito e cheio de ensinamentos. As referências musicais e literárias multiplicam-se e servem o misticismo desenvolto de Murakami num romance que chamaria mais ocidental que verdadeiramente japonês - mas que não perde essa vertente encantatória do país do Sol nascente.

A minha teoria epopéica é reforçada pelas personagens que vão surgindo e interagem com os heróis trágicos Nakata e Kafka orbitando entre o fantasmagórico e o corrente, o sobrenatural e o natural, o inacreditável e o existente , desde a sua génese até ao ocaso de um e a realização do outro: a prostituta deslumbrante e hipnótica em jeito de sereia, o louco escultor Johnny Walker que degola gatos por desporto, os camionistas filosófos, a figura paternal e mágica do Coronel Sanders que me lembra um duende, o solícito Hoshino, a doce e trágica Saeki que surge duplamente real e em espírito, o culto regedor da biblioteca de literatura japonesa clássica e transexual Oshimo a que junta a notável capacidade de conversar com gatos de Nakata e sua busca da Pedra da Entrada e a oportunidade de Kafka em lidar com situações extremas como a do espírito de Saeki adolescente, o retiro da montanha isolado de Oshimo e o reduto num universo paralelo guardado por dois militares desertores.

O livro poderá a tempos surgir monótono e irregular mas surgirá sempre algo que nos atira para as páginas seguintes e se de facto a história se prolonga em páginas não é de difícil consumo em 2 semanas de leitura - são mais de trezentas páginas aceleradas e carregadas de complexidade banhadas por toneladas de referências da cultura popular japonesas.

Leiam - valerá a pena. As cenas de sexo são intensamente gráficas e se o romance parecerá disparatado, não o é mais do que a Odisseia, a Eneida, a Ilíada e os Lusíadas a seu tempo.

Lido entre Wien e Lisboa.

Link : http://en.wikipedia.org/wiki/Kafka_on_the_Shore

13 de ago. de 2009

VALSA COM BASHIR



Fazer terapia com o passado distante e partilhá-lo - ora aqui está como fria e cruamente definiria este belíssimo trabalho de animação por Ari Folman que andou no ano passado chocalhando inúmeros festivais de cinema pelo mundo afora.

Mais candidamente chamaria Waltz with Bashir terapia mas mais ainda como prodígio visual e monumento à paciência técnica que a mim, como amante incondicional da arte da animação, me fazem considerar este filme um portento do género. 4 anos de trabalho divididos por filmagens e entrevistas on set com personagens reais seguidos por pós-produção e esquematização em storyboards finalizados com desenho momento a momento e com animação frame a frame. Extraordinário. Só me faz apetecer rever Waking Life e Scanner Darkly e Coolworld.

Se de si a técnica é irrepreensível e recomendável sem mácula já o objecto do filme é a pasta para o molho neste cozinhado em perfeição. A experiência como soldado israelita durante os conturbados massacres nos campos de refugiados de Sabra e de Shatila durante a Guerra do Líbano de 82 - na qual Israel deixou cair completamente a máscara de nação insuficiente e se revelou como uma potência regional. Longe de fazer objecções políticas ou sequer de questionar quaisquer questões de ingerência ou abuso ou ainda recusando tomar partidos em profundidade, o filme serve como consulta ao passado que se teria encapotado e que surge após contacto com amigo que foi também combatente no mesmo cenário.

A consciência de Ari é despertada lentamente e relatam-se os episódios da guerra que vão reaparecendo agressiva e finalmente em contacto com companheiros da época ou em visões de deja vu. O que nos chega é um retrato da época - contaminado claro pela visão partir do olhar (e olhares) de um adolescente de 19 anos israelita, mas não engajado - um diário de guerra em pesquisa de retrocesso de vida. Vejam - aprendam e questionem. E amem como eu amo.

Visto no Monumental, acompanhado do MAL

Link 1 | http://www.imdb.com/title/tt1185616

10 de ago. de 2009

Publicações Artistas Unidos



Escolhi esta imagem de entre tantas publicações saídas ao prelo pelos Artistas Unidos porque o tenho e porque me recordo perfeitamente de ter visto a peça do meio entre as três. Sempre admirei o trabalho deste colectivo de actores lisboetas que aliam esta aventura editorial dos Livrinhos de Teatro a uma produção contínua, profícua e dinâmica seja desde a sua sede ainda emprestada na Graça, o Convento das Mónicas ou a partir de gravitações mais ou menos intermitentes pela Malaposta, pelo IFP ou outros - enquanto não voltam de justiça para a sua natural e anterior sede no Teatro Paulo Claro no Edifício Capital ao Bairro Alto.

Sei que já se removeram bastantes barricadas quanto a isso e se quiserem saber mais da polémica e das sugestões para a recuperação e reconversão do edifício pelo Arqto Pedro Maurício Borges espreitem o site.
Enquanto isso desfrutem das peças e acompanhem-nas com a leitura destes livretos de bolso que se encontram na pequena livraria na entrada no Convento das Mónicas.

Lidos e vistos de Jean Luc Lagarce (Music Hall e As Regras da Arte de Bem Viver na Sociedade Moderna) no Instituto Franco-Português

Lido e visto de Juan Mayorga (Hamelin) no Convento das Mónicas

Ambas as peças e publicações pelos Artistas Unidos.
AU > http://www.artistasunidos.pt

ROJO vs UMBIGO



Não é que eu queira um confronto entre as duas publicações - não o desejo, só que as vejo tão próximas que tinha as aproximar - passe a redundância de forma. E são as duas duas grandes revistas que se preocupam em revelar e partilhar o que de mais interessante se vai fazendo no mundo das artes plásticas - street art - design - moda e escrita alternativa. Um dos nossos amigos - Si - já aqui veio publicado na Umbigo e outra minha amiga realizou o grafismo de um do números também da Umbigo.

Comprem e vejam - não se irão arrepender.

Folheadas por BCN - CBR e LX

Links

http://www.rojo-magazine.com
http://umbigomagazine.com

BÍBLIA



Falando de Bíblia não é imediato que se perceba que me refira a não outro do que ao livro sagrado das escrituras - mas de facto aqui falo da Revista Bíblia, publicação agora trimestral criada nuns já longínquos 96 e já reverenciada também; não sei se sem algum fanatismo à mistura. Solidificada a partir de uma base que chamaria de fanzine, Tiago Gomes montou uma revista que se suporta nos trabalhos de artistas e escritores, cronistas e poetas, designers e músicos que vale bem a pena espreitar.

Assinem - leiam - partilhem.

Folheada por LX

Link : http://revista-biblia.com

THE WAVE (livro) e THE WAVE (telefilme)





Tinha a vaga ideia de que o filme A Onda teria já sido comentado aqui no blog - mas não encontrei o link pelo que não estou certo se foi uma partida da minha memória, estou no entanto seguro de que os meus colegas de página irão responder-me quanto a isso. Mas o que comento aqui é o livro e não a sua versão alemã em filme. Melhor ainda - faço uma escatológica busca sobre o que deu origem ao filme e ao livro e aponho-lhe questões de ordem psicológica.


O filme The Welle por Dennis Gansel foi adaptado a partir do livro The Wave de Todd Strasser que o escreveu sob o pseudónimo de Morton Rhue. Este por sua vez foi baseado no telefilme The Wave de Norman Lear que adaptou para televisão o texto de Ron Jones chamado de Take as Directed baseado na experiência que implementou numa escola californiana e a que chamou The Third Wave. Inúmeras versões teatrais e musicais foram também realizadas. O livro que li foi o escrito por Todd Strasser na língua original mas isso levou-me também a ver o telefilme e a tentar perceber também melhor a experiência que se retrata.

O livro é interessante a um nível social e psicológico, na medida que levanta inúmeras questões quanto à manipulação das massas e ao anulamento do individual em detrimento do grupo. Aparte toda a polémica quanto à veracidade da experiência de Ron Jones alegadamente realizada por ele numa escola de Palo Alto em 67 - e que podem perceber no segundo link abaixo - é verdadeiramente interessante a um nível comportamental e histórico encontrar semelhanças entre este grupo de estudantes que foi encaminhado, seduzido e orquestrado em imensos episódios tenebrosos na humanidade. Mais propriamente do Nacional Socialismo e na WW2 em que se baseiam as obras.

É possível ainda acontecer hoje em dia toda esta manipulação de gentes? É. Acredito que o risco existe e que persiste ainda entre nós - sob a bandeira de partidos e movimentos e agremiações. Por isso mesmo - por esse perigo latente - é que o estado alemão oficializou a leitura do livro como obrigatório no ensino liceal.

O livro é simples e lê-se rapidamente - o seu interesse advém, como já disse, da experiência em si. O telefilme é anterior ao livro e este corresponde sílaba a sílaba ao que lá vem descrito.

Lido em Viena de uma assentada.
Visto em LX em complemento de tarde.

Vejam aqui o telefilme e o restante material : http://www.thewave.tk
Espreitem este também sobre a polémica da veracidade da experiência :
http://www.geniebusters.org/915/wave_statements.html

2 de ago. de 2009

Slumdog Millionaire


Jamal e Latika. Os protagonistas deste filme britânico de 2008 baseado no livro "Q and A" de Vikas Swarup e que arrecadou 8 óscares.
Há quem diga que é um filme bollywood. Já vi alguns e acho que de bollywood tem pouco.

"Slumbdog Millionaire" apresenta-nos um pouco de tudo: romance, realidade, ficção, humor, alguma pancada, drama, um ou outro tiro.
A sinopse encontram-na aqui bem como o trailer.
Adorei o filme. Adorei as personagens. Os actores foram muito bem escolhidos para os papeis. A carinha de Jamal, não podia ser mais ternurenta para o papel que desempenha, tivesse ele 6 ou 18 anos ;D. É uma história de amor sim e que acaba, claro, com um e foram felizes para sempre. Ok, e com uma dança à bollywood!
E as crianças, demais! Os seus papéis foram muito bem conseguidos e as imagens onde entram são divinais.
Para terminar, deixo-vos uma das músicas da banda sonora que fica mesmo no ouvido! "Jay Hooooooo...!" :)

27 de jul. de 2009

The Animals - Save the Planet


Ora aqui está uma colecção bem divertida de vídeos "amigos" do ambiente.
Estes animais dão-nos exemplos de como ajudar a proteger o planeta.
Ver aqui.

21 de jul. de 2009

A LARANJA MECÂNICA (livro e filme)




Este é outro dos ilustres casos em que o filme abre o apetite ao livro e também das poucas vezes em que a transposição em filme presta um acertado tributo às páginas em que nasceu - outro é um livro que leio por agora chamado de Gomorra (opinião que terá divergências).

Escrevo sobre A Laranja Mecânica, livro e filme de seu nome original A Clockwork Orange - aquele de Anthony Burgess e este de Stanley Kubrick. Recém chegado de Bristol e refrescado de qualquer vaga ideia de contágio pela mais recente pandemia releio o livro e apetece-me rever o filme. E ao rever a terra, revejo-me também na violência que se encontra em diversas partes de Inglaterra e que serve de catalisador aos filmes de Ritchie e a este livro de Burgess.

A linhagem de criadores sci fi e distópicos ingleses é longa e profícua e do meu muito gosto pessoal, alinham-seVerne, Orwell, Tolkien, Swift, Burgess, Moore, Blake, Huxley, Shelley... Tal como Tolkien e como Orwell também Burgess criou o seu próprio vocabulário que aqui se mostra como o calão da nova população juvenil, os nadescentes que num futuro próximo - presente pop ainda por domesticar - perpretam a ultraviolência horroroíca do atolchocar e do mete-tira sobre os vecos e as debocheicas em pequenos bandos de drucos competidores. Bebem molco misturado com drogas e satisfazem-se nos dias de violência.

O livro é fantástico e de digestão fácil após as primeiras páginas e após entrar o vocabulário nadescente. Surge como uma antevisão e alarme contra o aumento da violência e o descontrolo e autoritarismo estatal - acaba por ser duplamente um manifesto contra o autoritarismo e um reflexo da indiferença da sociedade perante os seus. É de leitura imprescindível assim como o filme já é um clássico e portanto, necessário.

Este - o filme- é irrepreensível no tratamento da história como contada por Burgess e apresenta um Malcom McDowell extraordinário como Alex. Lembrei-me ainda agora que vi uma estátua realizada por Kubrick para o filme na exposição Porn Identity em Viena - toda a imagética e grafismo do filme, as propostas para indumentárias e decorações de bares e habitações está perfeita para o que a imaginação construiu a partir das páginas do livro.

Recomendo em absoluto. Ambos os objectos. Sigam apenas a ordem de leitura primeiro e depois o visionamento - parece-me que encaixa melhor e ficarão muito bem servidos, pois o filme é um complemento gráfico ao livro.

Relido por Sta Catarina - visto há uns anos por Coimbra.

Link :. http://www.imdb.com/title/tt0066921

Chave :.

nadescentes - adolescentes
horroroíca - fantástica
atolchocar - bater
mete-tira - cópula
vecos - tipos
debocheicas - miúdas
drucos - camaradas
molco - leite

29 de jun. de 2009

FADO TONIGHT




Poucos filmes me mostraram tanto de Lisboa - da minha já agora e ainda não o sabia antes, querida Lisboa - como a curta Fado Tonight deste jovem realizador nascido e crescido no característico bairro da Graça, por onde também já passei os dias e descansei as noites. Por ser lisboeta de gema e perambular pelos bairros da baixa e pelas ruelas e largos do Castelo e de Alfama o Henrique conseguiu captar em filme a essência castiça da cidade como poucos ou nenhuns antes dele (Pêra divaga e injecta-lhe videoart a rodos mostrando Lisboa em videoclip - César Monteiro é demasiado o retrato de César Monteiro e de João de Deus, Pedro Costa não relaxa sobre o feio e Cotinelli vai já lá muito rebuscar à memória).

Lisboa ainda é como em Fado Tonight, Alfama, Graça, Mouraria e Marvila ainda são assim, inocentes e pitorescos, honestos e emotivos, capazes de ceder apaixonados e de se verem enleados pelos seus becos em beijo húmido cantado a fado - ironicamente o título recorda que Alfama e o Bairro Alto e também em menor escala a Bica, estão pejados de sítios caracterizados para estrangeiro.

Fado Tonight conta como um cantoneiro se apaixona por uma fadista e ao ver-se trocado por um guitarrista, afunda-se na bebida para ser felizmente salvo por uma rapariga que trabalha num restaurante que deseja ser fadista - sofrível - mas que se apaixona por ele. O final é feliz e mesmo que a história pareça simples, ela é de facto lisboa!

O filme é uma banda sonora constante em que as falas são mínimas e os gestos são mais esclarecedores - recordando-me Mário Viegas, discorrendo Deolinda, Naifa, Marceneiro, Madredeus e Fado por todos os poros das calçadas que percorre e das tabernas que lhe servem de mote, como o Jaime da Graça, a Ginginha de Alfama e a Baiuca.

Belíssimo e a alma daqui. Uma história de amor que se serve destas ruas como postal cheio de gente e de fado e apesar de bem jovem, Henrique Barroso filma e mostra Lisboa como gente grande.

Visto no CineLençol do MAL em pleno miradouro da Graça : http://movimentoacordalisboa.com
Contactem a produtora para terem mais do que o trailer : http://www.uzifilmes.com
Trailer
http://www.youtube.com/watch?v=ItMRqWOI3iY

Nota : grafa-se Fado quando se refere o género e deixa de se capitular a palavra quando o assunto é destino e saudade.

12 de jun. de 2009

Movimentos Perpétuos


Um tributo a Carlos Paredes de Edgar Pêra.
As guitarradas até me arrepiaram.
As imagens de Coimbra, saboreei-as.
A sinopse encontram-na aqui.
A música, aqui.
Assistido no Instituto Camões em Hamburgo, na companhia de gente conhecida, lusa e não só! Ah! E não faltou o Porto e os Pastéis de Nata, claro!
Foi assim, o meu serão, no dia 10 de Junho, dia de Camões.

Jarabe de Palo


Mais um concerto na cidade de Hamburgo, como não poderia deixar de ser, na Fabrik. Jarabedepalo é uma banda de rock latina, formada em Barcelona no ano de 1997.
A minha amiga colombiana desafiou-me a assistir ao concerto da banda dela preferida, nos tempos em que ainda vivia em Bogotá, e eu não pude resistir. Afinal, eram sonoridades familiares (cantam em espanhol) e isso não é de deixar escapar aqui em Hamburgo.
Dançámos e dançámos que nos fartámos! Há muito que não saltava assim. Muito bom! E acompanhada por pessoas muito especiais. O que se há-de querer mais na vida ;)?
Aqui fica uma das suas músicas, "Grita".

11 de jun. de 2009

Octopus "in love"

Acho que este vídeo é uma "mini-curta" bem engraçada e que vale a pena partilhar.

Não sei o nome original (talvez "Oktapodi") por isso intitulei-a "Octopus in love", pois o Amor pode ser assim perseverante :)

First steps

Aqui fica mais um vídeo para nos lembrar dos deveres "amigos" do ambiente :)

9 de jun. de 2009

Earth is breathing - Greenpeace

Quando ouvi a Deniblog ler um texto sobre a respiração da Terra, lembrei-me deste vídeo que há uns tempos me chegou por mail e que agora partilho.

Ouvir Deniblog aqui: http://rabiscosegaratujas.blogspot.com/2009/06/para-o-andre_09.html

7 de jun. de 2009

O Grito da Gaivota


Foi neste livro que encontrei por escrito sensações e sentimentos em relação à língua alemã. Quer dizer, não é propriamente em relação ao alemão, em si... Agora o entendo. É em relação a qualquer língua que não se saiba, não se domine.

Emmanuelle escreve:

"As pessoas dizem-me: "Fala, fala, nós compreendemos", mas de momento sei que não é assim, a não ser no seio da família."

"À saída sentimos uma exigente necessidade de recuperar. A necessidade de estarmos juntos, de falar entre nós. De recuperar não só tempo perdido durante o dia com os que ouvem, mas a nossa língua, a nossa identidade."

"Não precisar de me estafar na tentativa de falar oralmente. Reencontrar as mãos, o à-vontade, os gestos que voam, que falam sem esforço, sem constrangimento. Os movimentos do corpo, a expressão dos olhos, que falam. De súbito desaparecem as frustrações."

É isto mesmo! A comunicação é o veículo para a integração de alguém em qualquer ambiente. Tanta vez senti isto e nunca o soube "escrever". Diziam-me: "o teu problema é que em casa falas português..."; "ah... o teu problema é que não te esforças...".
Por tantas vezes queria simplesmente engoli-los, os que me diziam coisas destas! O problema... Para quem desde o primeiro dia que pôs os pés nesta terra ainda não parou de ter aulas de alemão, para quem deixa de falar em inglês com quem também o fala para poder treinar o alemão, para quem acha a língua alemã desagradável ao ouvido, para quem foi obrigado a aprender a língua para poder abrir algumas portas na sua vida, para quem escolheu engenharia porque não tinha jeito para línguas, é... Simplesmente sentir que é uma barreira, o não conseguir-se comunicar para voltar a estabelecer laços afectivos, de que tanto precisa, para viver como ser humano.
Mas isto, essa fase da minha vida, agora já passou! ;)

Emmanuelle é surda. E ao ler o seu livro percebi o significado de se ser surdo. Emmanuelle explica: "O termo "surda-muda" continua a espantar-me. Mudo significa que não se tem o dom da palavra. As pessoas vêem-me como alguém que não utiliza a palavra. É absurdo! Eu uso. Tanto com as mãos como com a boca. Faço gestos e falo francês. Utilizar a língua gestual não significa que se seja mudo. Posso falar, gritar, rir, chorar, são sons que me saem da garganta. Não me cortaram a língua! Tenho uma voz esquisita, mais nada."
Comunicação.
Os surdos, simplesmente são bilíngues (aqueles que tem a sorte de aprender as duas línguas): a língua gestual que utilizam para comunicar sem sons, e a língua do país onde nasceram para poderem ler e escrever. São fantásticos! Eu considero que falo bem inglês. Mas não posso dizer que sou bilíngue!
O livro é delicioso de se ler. Dá-nos uma noção do que é ter-se nascido surdo e que obstáculos têm de ultrapassar no "nosso mundo", o mundo dos ouvintes.

19 de mai. de 2009

The Boat That Rocked


Este The Boat That Rocked vale mesmo a pena ver! Além de ser uma comédia bem engraçada, é também uma viagem pela música dos anos 60, mais concretamente o estilo rock.
É a história duma rádio pirata instalada num barco algures no mar, os seus rebeldes locutores e da "perseguição" que o governo, que é anti-rock, lhes faz.
Do mesmo autor de Love Actually, Bridget Jones's Diary, Notting Hill e Four Weddings and a Funeral, entre outros, este filme trá-lo de novo à ribalta depois das críticas em relação ao filme Love Actually (mas o enorme sucesso, deste filme, entre o público opõe-se à reacção negativa dos críticos).
Gostei imenso do filme e adorei a banda sonora! O leque de actores é óptimo e é interessante ver como alguns deles se adaptam tão bem a estilos tão diferentes de personagens/filmes.

18 de mai. de 2009

Love Actually


Em Portugal este Love Actually tem o título "O Amor Acontece" - e é realmente isso que este filme mostra: "saltitando" de uma história para outra - umas felizes, outras nem por isso -, vamos conhecendo diversas formas de amar e de demonstrar amor.
O elenco é variadíssimo - very brithish! - e inclui também a nossa Lúcia Moniz e o lindo brasileiro Rodrigo Santoro.
Não me canso de ver este filme. Aqui passa muitas vezes na televisão - e eu acabo por vê-lo vezes sem conta. A única coisa que não gosto é o "retrato" tonto que dão dos portugueses: alguma vez um homem beijaria, na boca, o seu futuro genro?!?

30 de abr. de 2009

Twilight


Vi este filme em duas partes pois, sendo um filme de vampiros, seria complicado adormecer (!) sem pensar nos sustos que apanharia. Acontece que Twilight (que significa crepúsculo) acaba por se tornar numa ficção romântica, sem quase aparecer sangue ou mesmo dentes caninos!O britânico Robert Pattinson é Edward, o vampirinho principal, e é, diga-se, apetecível! :) A história gira em torno dele e da sua "família" - um grupo de vampiros "vegetarianos" - e do seu relacionamento com a humana Bella (Kristen Stewart).


A sequela New Moon já está a ser filmada e deve estrear em Novembro deste ano.

School of Rock



Este filme, com o brilhante Jack Black, é uma comédia bem divertida em que um músico falhado se faz passar por professor e acaba por dar uma grande revira-volta na vida de miúdos de 10 anos, alunos de uma escola super exigente.
Cada um acabará por "aprender a sua lição", principalmente o professor-músico, assim como todos os intervenientes nesta "escola de rock".

29 de abr. de 2009

Sideways



Sideways leva-nos numa viagem pela paisagem vitivinícola da Califórnia, com Miles (Paul Giamatti) e Jack (Thomas Haden Church - o tio maluco de Smart People) a provar os diferentes vinhos da região e também alguns (dis)sabores da vida.

Com cenas cómicas e caricatas, mas também com situações menos simpáticas, pode-se dizer que este filme mostra um pouco das duas facetas que o álcool traz "ao cimo".

ANGEL-A


Este filme mostra-nos a confusão em que a vida de André (Jamel Debbouze - também o vi em Le fabuleux destin d'Amélie Poulain e Astérix & Obélix: Mission Cléopâtre) se transformou. E tudo devido às mentiras que inventa para se proteger e que acabam por levar a sua vida a ficar "de mal a pior"... até ao dia em que conhece Angel-A (Rie Rasmussen).
Angel-A "cai" do céu e faz com que André se transforme numa pessoa melhor, mas ele acaba também por transformar a vida dela - e de que maneira!
E mais não digo, porque senão perde a graça :)

26 de abr. de 2009

Deolinda


Os Deolinda actuaram ao vivo aqui em Hamburgo, também na Fabrik.
Do concerto não podia ter esperado melhor: pouco público (melhor para mim, que pude assistir sem ter de me irritar com os gigantes alemães a meterem-se à minha frente), ambiente acolhedor, sons de guitarras e contrabaixo, uma pitada de encenação, muito humor e... O melhor de tudo, em português.
As músicas são realmente engraçadas. "Traduzem" quase à letra a boa maneira de se viver em Portugal (que eu adoro!!!): desde aquele que decide que é hora de "mudar esta m**** toda" e no dia da manifestação diz: "Vão andando que eu vou lá ter!"; à emigrante brasileira que trabalha numa Casa de Fado e no dia em que decide também ela cantar o fado, nos refrões, se põe a sambar; a menina que namora um rapaz que toca numa filarmónica; etc... Melhor mesmo é comprar o CD e explorar todas as letras. OU, consultar a página do grupo, onde podem ouvir todas as canções.
O grupo em si, é uma ternura...

14 de abr. de 2009

26 de mar. de 2009

Where the Hell is Matt? (2008)

Este vídeo chegou-me por mail e, depois de ver o vídeo, resolvi "investigar" este Matt.
Descobri isto:
http://www.wherethehellismatt.com/about.shtml
Acabei por ver também os vídeos da palestra que deu, nos quais Matt explica a razão pela qual esta "dança", à volta do mundo, começou.

The T-Mobile Dance

Aqui está o vídeo da publicidade duma operadora de telemóveis. Foi filmado na Liverpool Street Station, em Londres. O público foi surpreendido pelos bailarinos que, de repente, começaram a dançar "do nada".
Quando vi a publicidade na televisão, adorei e só tive pena que fosse propaganda de telemóveis... Mas é interessante ver como a publicidade tem dados passos grandes e cada vez há mais anúncios originais e com bons resultados.

24 de mar. de 2009

Ficção Científica no Cinema Londres -Lisboa

A I Mostra Sci Fi de Cinema Fantástico, iniciativa do canal Sci Fi, vai decorrer este fim-de-semana no Cinema Londres. Serão apresentadas sete obras do género de ficção científica, nunca antes projectadas no país, nos dias 28 e 29 de Março.

A antestreia decorrerá na sexta-feira (27 de Março), contando com o humorista Bruno Nogueira a protagonizar um pequeno monólogo, antes da projecção do filme «Let the Right One In», marcada para as 21:00 horas. Esta obra trará uma história de amor entre vampiros.

Bruno Nogueira, que esteve presente na apresentação do evento à imprensa, disse estar «muito contente» com o seu envolvimento na iniciativa. «Além de poder ver filmes ´à borla´, é uma óptima oportunidade para eu conhecer melhor o cinema fantástico», apontou o humorista.

«(A Mostra) pretende ser um ponto privilegiado que as pessoas possam visitar para conhecer o melhor do cinema fantástico», disse Carolina Godayol, directora geral da NBC Universal Global Networks para Portugal e Espanha, esta terça-feira em conferência de imprensa.
Diário Digital, 24 Março'09

23 de mar. de 2009

"a nossa necessidade de consolo"






"a nossa necessidade de consolo"
um filme de André Santos
e Marco Leão


Documentário | 13' | 2008
A passar no IndieLisboa deste ano! O Marco foi quem filmou para mim na Malaposta, em 2007!

"O tempo passa por nós como uma tarde passageira. Corre como as nuvens no céu levadas pelo vento, à deriva.
Enquanto o tempo passa, vivemos e sentimos a sua passagem.
Uma breve reflexão sobre a passagem do tempo sobre nós, vista através de dois momentos da vida das nossas mães."


"No fundo, o tempo de nada serve, inútil instrumento de medida que só regista o que a vida já me trouxe." (Stig Dagerman)


www.indielisboa.com
www.myspace.com/andrefcsantos
www.myspace.com/marcoleao

21 de mar. de 2009

50 FIRST DATES



Este é um típico filme de Adam Sandler e ao afirmar isto acrescento que este é outro objecto de entretenimento fácil, de consumo rápido e completamente ausente de qualquer objectivo ou mensagem que não seja a de produzir um objecto consumível por toda a família e específico para o mercado americano (pelos gags e referências).

Não digo que os estúdios americanos devam deixar de produzir este filmes mas este não me serve as medidas e na verdade os únicos filmes que aprecio por Sandler é o Embriagado de Amor do Paul Thomas Anderson (que lhe valeu uma nomeação para um globo de ouro) e a Terapia de Raiva onde contracena com um magistral Jack Nicholson.

Este filme resume-se rapidamente. A personagem de Sandler é um conquistador inveterado que se apaixona pela personagem interpretada por Drew Barrymore e é retribuído nessa afeição. O problema é que esta revive o mesmo dia desde que teve um acidente um ano antes - não guardando qualquer memória mais que as horas de um dia. O restante é tudo menos inesperado.

Visto no autocarro entre Bratislava e Praga

Enlace | http://www.imdb.com/title/tt0343660