31 de jan. de 2008

Filme da vida

Hoje, às 13h10, nasceu uma nova personagem deste filme que é a vida!
O nome dele é Francisco e eu sou uma das tias da estrela!
À minha mana, que já plantou muitas árvores, já só lhe falta escrever um livro - do qual depois falaremos aqui :)

ANIMAL FARM : O TRIUNFO DOS PORCOS



de George Orwell (pseudónimo de Eric Blair)

Tal como no magnífico 1984 (donde se extraiu a persistente ideia do Big Brother, 'big brother is watching you') e na senda de outros títulos (lembro-me do excelente Brave New World - Admirável Mundo Novo - de Aldous Huxley), serve esta alegoria distópica de advertência sobre os perigos sociais e humanos do estabelecimento de regimes totalitários, achando paralelismo na evolução do estado marxista socialista russo (com Lenine/ Estaline).

Orwell advogava pela liberdade individual e até lutou e foi ferido durante a Guerra Civil Espanhola, ao lado dos Republicanos. Ler também dele, Homage to Catalonia.

Old Major, um velho porco em fim de vida, resume os princípios do que ele chama Animalism, clamando aos animais para se revoltarem. Antes de morrer, semeia o desejo de que os animais vivam livres, longe do jugo humano.
Em Manor Farm os animais cansam-se de viver como escravos e revoltam-se finalmente contra Mr Jones, o dono da quinta. Expulsam os humanos, mudam o nome para Animal Farm e estabelecem um código de 7 mandamentos inscritos no celeiro, criando uma comunidade animal baseada na inteligência dos animais mais dotados: Napoleon e Snow Ball.

1.Whatever goes upon two legs is an enemy.
2.Whatever goes upon four legs, or has wings, is a friend.
3. No animal shall wear clothes.
4. No animal shall sleep in a bed.
5. No animal shall drink alcohol.
6. No animal shall kill any other animal.
7. All animals are equal.

Estes são os princípios base do Animalismo, resumidos a um só mandamento para os animais menos inteligentes:

Four legs good, two legs bad.

Napoleon persegue o poder e expulsa Snow Ball, tomando as ideias deste como suas, escravizando os outros animais em detrimento dos porcos, alterando em seu favor os mandamentos e torturando e assassinando quem se opusesse ao seu regime. Os mandamentos alterados são os seguintes:

4. No animal shall sleep in a bed. with sheets
5. No animal shall drink alcohol. to excess
6. No animal shall kill any other animal. without cause
7. All animals are equal. but some animals are more equal than others

Este último mandamento alterado é o que sobra, última réstea da revolução animal; e os porcos cada vez mais se vão assemelhando aos humanos de que se libertaram até à metamorfose final, o ocaso do Animalismo.

Esta sátira aos desvios do totalitarismo é de fácil leitura e muito apetecível, recomendo absolutamente a sua leitura.

[notas]

A tradução do título é péssima e insinua logo o desfecho da história. Sugeriria a manutenção do título original ou uma corruptela como Quinta Animal.

[fontes]

30 de jan. de 2008

THE DARJEELING LIMITED + HOTEL CHEVALIER



de wes anderson

a)

The Darjeeling Limited é uma belíssima viagem de reencontro e descoberta para os três irmãos Whitman : Peter, Francis e Jack (segue a ordem pela imagem de cima, o mais velho no meio) através da colorida Índia em busca da sua mãe Patricia, freira reinventada. Após a morte do pai (ver segmento do Luftwaffe Automotive) a que a mãe não pode ir, os irmãos não se viam há já um ano e tudo foi fabricado por Francis (o sempre protector irmão mais velho) com o auxílio do seu assistente - ao género de Passepartout - para encontrarem a mãe e se reencontrarem.

A fotografia é perfeita e preenche todos os episódios e os habituais adereços encantados de Anderson, com as plenas cores indianas. Anjelica Houston está belíssima e Bill Murray é quase um fantasma, é um cameo. A sequência do comboio, em que aparecem em sucessão todas as imagens das personagens presentes no filme, afastadas por milhares de quilómetros mas próximas nesta galeria de ocasião, é estupenda - recorda-me a apresentação do Belafonte, no Life Aquatic with Steve Zissou.

Todo o filme é magnífico e relata todas as peripécias de uma família naturalmente disfuncional. (ver The Royal Tenenbaums e Life Aquatic with Steve Zissou do mesmo Wes Anderson ; respectivamente em PT: Os Tenenbaums - Uma Comédia Genial e Um Peixe fora de Água, o que se passa com estes tradutores??)

O filme termina com um reencontro total mas com um entendimento pela metade e é imperdível!

b)

Hotel Chevalier é a curta que acompanha a longa e que a precede - como uma pequena prequela, um prelúdio; temporalmente, surge de permeio na sequência da história de Darjeeling Limited, espreitando sobre o momento de paragem/passagem por Paris do irmão Jack Whitman.

A curta é crua e frontal e delicodoce e levemente desencantada mas ainda, e também, esperançosa - sobre o corpo despido e macerado de Natalie Portman salta o inevitável desejo de Jack, entremeado por um delicioso diálogo ferido, servido a frio no fim de Darjeeling Limited, como fim de um novo conto a ser escrito por Jack.

A belíssima vista de Paris que se alcança do quarto do hotel é soberba, *irónico*!

notas sobre a BSO :
procurar sons de Shankar Jaikistan e Satyajit Ray (e, por arrasto, Ravi Shankar)

[anexo]

Visto no Cinema Monumental ao Saldanha, LX

29 de jan. de 2008

Sweeney Todd: The Demon Barber of Fleet Street



A história (que há quem diga que aconteceu mesmo, mas não há provas) relata a vingança do barbeiro Benjamin Barker depois de ter sido afastado das pessoas que mais amava.
A arma da vingança é o instrumento da profissão.
A cave da loja de empadas de carne de Mrs. Lovett é o destino das vítimas "barbeadas".
As empadas começam então a ter sucesso e isso deve-se ao secreto ingrediente usado.
Sweeny Todd (nome que Benjamin usa quando regressa para se vingar) consegue "barbear" todos os que interferiram na sua vida e no final quase mata quem não deve!
Do filme mais não conto, mas acrescento:
Não pensei que conseguiria ver um filme deste género (crime/thriller), mas pelo Johnny Deep faz-se um esforço :)
Fui ver Sweeney Todd The Demon Barber of Fleet Street com esperança de conseguir ver tudo. Pois, não deu...
Estive lá, mas em alguns momentos as minhas mãos estiveram à frente dos meus olhos. Não gosto de ver sangue e o vermelho vivo é cor dominante no filme.
Não sabia que era um musical. Musical com sangue funciona?
Sim, correu bem (excepto eu não ter entendido muitas das partes cantadas - já não é simples entender o que falam, quanto mais o que cantam!) e fiquei surpreendida com as vozes dos actores.
O meu querido Johnny está divinal (como já nos acostumou) e mesmo a fazer papel de vilão consegue-nos conquistar. Consegui ver um pouco do Captain Jack Sparrow numa expressão do Sweeny Todd. Mas de resto, esta personagem é bem autêntica.
A Helena Bonham Carter está muito bem no papel de Mrs. Lovett.
Tim Burton dirige uma vez mais estes dois actores que fazem uma grande dupla.
Por tudo (mesmo com tanto sangue), é um filme a não perder!

Só mais uma coisinha: já vi o filme há 3 dias e quando penso em empadas de carne dá-me um nojo enorme! Não sei se conseguirei voltar a comer alguma!!!

Esqueci referir que o Sacha Baron Cohen, i.e. Borat (o famoso cazaquistanês que gozou com a América), também aparece neste filme como Signor Pirelli!

28 de jan. de 2008

O SILÊNCIO DO MAR



de Vercors, pseudónimo de Jean Brulle

O Silêncio do Mar é uma belíssima história de silêncios e de ocasiões, um conto sobre a tolerância e sobre o belo que se pode encontrar ainda nas pessoas e na vida, mesmo em tempo terrível da guerra. É uma elegia, é uma ode, é toda uma descrição poética do que encontramos de melhor sobre o pior dos momentos.

nota : Li primeiro esta colectânea de contos há muitos anos atrás numa edição da Atlântida Editora de Coimbra, que consegui encontrar numa Festa do Livro e fui surpreendido pelo conto Uma Mentira Política, que se desenrola nessa cidade ao tempo de Pombal, tão mais admirável por ter sido escrito por um francês em altura da Segunda Grande Guerra.

[adenda ao 'O Silêncio do Mar', para cumprir a ânsia dos super-comentadores] :

3 personagens preenchem o cenário desta história que é um conto, mas que podia bem ser um detalhe da vida autêntica; 3 personagens emudecem no espaço enquanto se sente o inexorável rolar das horas e apercebem-se as suas emoções e expressões; 3 personagens digladiam-se na França ocupada, num momento intermédio da Segunda Grande Guerra; das 3 personagens uma é o ocupante (o esperançoso e poético oficial alemão Werner) e as outras duas as ocupadas (caladas mas não subservientes, tio e sobrinha franceses).

Toda a acção se desenrola num pequeno espaço e estuda o comportamento humano - e funcionaria lindamente num palco. As duas personagens francesas existem na pequena sala central à história como se peças de mobiliário fossem, imóveis e indiferentes à presença do soldado, que longe de os acossar - mesmo estando no papel de conquistador - os tenta de todos os meios arrebatar. O final é um final concreto, e não o revelo porque estraga toda a beleza do avançar da relação amor-ódio que se vai estabelecendo.

Mas é o saber o final o propósito em si, ao ler uma obra? Se assim fosse, proporia, uma galeria interminável de finais, uma Biblioteca de Babel escrita pelo meio, pelo fim.

[adenda minha]

O nome original do livro é 'Le Silence de la Mer', de 1942 e foi adaptado ao cinema em 1947, por Jean-Pierre Melville.

27 de jan. de 2008

Ainda Outras Letras

Não me consigo lembrar como descobri estas Letras, mas sei que foi algum tempo depois de ler o "Ensaio da Cegueira" do José Saramago.
Lembro que devorei o livro!
Lembro que devorei o blog! Que delícia!
Passo lá às vezes na esperança que o Fernando Meirelles (realizador do Cidade de Deus e do The Constant Gardener) acrescente mais algum post, mas acho que agora já só posso esperar o filme...
Deliciem-se também!

Aventuras em Outras Letras

Foi por causa deste livro (que me foi oferecido em Outubro de 2006 e que surgiu daqui) que eu me embrenhei verdadeiramente pelo mundo dos blogs.
Antes passava pelos blogs de alguns amigos e conhecidos, mas pouco mais.
Os comentários deixados no blog da minha homónima levaram-me a outro blog; aí descobri este e através desse descobri ainda mais este. Outros mais descobri, mas estes são os que visito mais frequentemente.
E talvez por causa destas Outras Letras todas é que surgiu o bichinho de criar o Lendas e Legendas :)
Não falo do livro, mas deixo a pergunta retórica:
Onde é que um livro nos leva?

25 de jan. de 2008

LISBOA, WHAT THE TOURIST SHOULD SEE : o que o turista deve ver



''LISBOA - WHAT THE TOURIST SHOULD SEE (no original), não é um livro regular de Pessoa, não é um livro comum do Poeta da Mensagem e da heteronímia, não é um livro - no sentido de o considerar literatura; é sim um guia turístico, um passeio pela cidade do Poeta pelo Poeta, que se torna tão mais curioso porque retrata a cidade de Lisboa numa época específica - década de 20, fixando qual instantâneo uma vivência e um tecido urbano entretanto alterados ou desaparecidos. É interessante saber também que foi escrito em inglês - a segunda língua de Pessoa, que viveu parte da sua infância em Durban, RSA .

Reparem na evolução dos topónimos na Praça do Rato - antes Praça do Brasil ou do Príncipe Real - anterior Praça Rio de Janeiro; na planta imberbe de Lisboa a meio do livro; na percepcionada limpeza visual das ruas libertas de carros; na ausência das pontes 'o viajante chega a Lisboa de barco, à Gare Marítima', aeroporto e vias rápidas e toda a caótica presença de transportes na cidade contemporânea.
O detalhe que achei mais delicioso foi a descrição do Chiado a partir da página 68. Tudo existe agora como descrito pelo Poeta, excepto o próprio Poeta : falta no colorido quadro que nos desenha, a estátua de Pessoa em bronze em frente à Brasileira!
Recomendo vivamente a quem quiser conhecer melhor Lisboa, a quem quiser descobrir como era a cidade há oitenta anos atrás e deseje comparar estas duas Lisboas e a quem quiser conhecer um pouco mais do modo de pensar do próprio Pessoa.

FICHA TÉCNICA
LISBOA, WHAT THE TOURIST SHOULD SEE : o que o turista deve ver
Edição bilingue, Livros Horizonte, 2006
(existem traduções para espanhol, alemão e francês)
Fernando Pessoa, provavelmente 1925

A Metamorfose


Um brinde às amizades que de meia dúzia de palavras trocadas em 2 dias de e-mails fazem nascer estas metamorfoses. Tal como Kafka tem a sua, nós teremos a nossa.
E começo por aqui. Li «A Metamorfose» de Kafka em alguns minutos.
Gregor acorda um dia de manhã transformado em insecto. A primeira preocupação dele é a desgraça da família por o ter naquele estado. Ele era já há alguns anos o sustento financeiro da família. Mas mais nada. Pois a partir do momento que deixa de poder sair à rua para trazer esse sustento, a família, que nunca teve coragem de olhar para ele depois de o terem visto pela primeira vez, ignora olhá-lo (a irmã ainda lhe leva comida no início mas ele preocupa-se sempre em se esconder para ela não se assustar ao vê-lo) mas anseia que ele desapareça.
Leiam! Lê-se rápido mas é saboroso, surreal, inquietante e frustrante. O absurdo e a desgraça dele foram o reviver da família: o pai volta a trabalhar, a irmã emancipa-se.

24 de jan. de 2008

NASCIMENTO DAS IMAGENS (0.1) >>


1
Ontem nasceu o lendas e legendas. Apesar de inicialmente não simpatizar muito com o título escolhido dentre os muitos que estavam à nossa consideração, acabo agora por encontrar este como o mais ideal possível entre os ideais disponíveis. Porquê? Porque nos assenta perfeitamente ao propósito da criação deste mesmo blogue: lenda + legendas, como quem diz, substituindo o lendas por ficções (massa fundamental de livros e sucedâneos e massa integral de curtas, médias e longas metragens *1); e, jogando com a sinuosa e sugestiva semelhança, em inglês, de legends com o nosso legendas ao invés de subtitles (aproximando-se assim de uma das entidades que nos servirá de alimento para este blogue: a sétima arte), sendo assim novamente, nessa possível dúbia tradução, de duas vezes lenda, duplamente ficção: lendas+legendas!

*1
todos os filmes partem de um livro e são raros os casos que funcionem ao contrário – recordo-me do Starwars e do segmento específico do documentário/reportagem. E mesmo os que cumprem esta final rara característica, partem eles, invariavelmente, de um script – de um guião.


2
O nascimento das imagens e das palavras do Lendas e Legendas é assim muito bem vindo e eu com ele, espero começar desde já a partilhar o que leio e o que vejo e comigo os outros deste blogue :D

The Kite Runner










The Kite Runner (2007)

Só pela Fotografia já basta ver este filme.
Mas não é só com os olhos que se aprecia The Kite Runner.
A história é bonita e passa-se numa realidade nossa conhecida embora bem longe de nós - e "o que olhos não vêem, o coração não sente"...
Aqui os olhos vêem e o coração sente. E de que maneira!
É a história de dois amigos que vivem no Afeganistão.
A história de dois amigos inseparáveis.
A história de dois amigos separados.

A personagem Baba, pai de Amir, é de uma beleza incrível, em todos os sentidos.

À pergunta "gostaste?", após ver o filme, a minha resposta foram lágrimas.
Lágrimas pela beleza. Lágrimas pela injustiça. Lágrimas.

Vale a pena. A não perder!

23 de jan. de 2008

Nascimento das Letras

Hoje nasce o Lendas e Legendas.
Não nasce do nada. É filho de várias mentes.
Aqui pensamos deixar o que a nossa memória retém de livros e de filmes.

A ideia surgiu após ter ido ao cinema ver "Kite Runner". Em conversa com uma colega verifiquei que ela nada sabia acerca deste filme e que nem sequer tinha ouvido falar.
Acho lamentável que filmes bons se percam em salas de cinema alternativo, por isso surge este espaço. E o mesmo acontece com livros - mas noutras salas :)

Hoje, dia em que se soube do desaparecimento do promissor actor australiano Heath Ledger, nasce o Lendas e Legendas.

Boas leituras