''E nisto vieram a parar meus serviços de vinte e um anos, nos quais fui treze vezes cativo e dezasseis vendido, por causa dos desventurados sucessos que atrás no discurso desta minha tão longa peregrinação largamente deixo contados.''
in Peregrinação
Fernão mentes? Minto!
Esta é a expressão que saltita sempre da boca de um português quando se fala de Fernão Mendes Pinto, acompanhando-a ainda de um sorriso malicioso de que não se sabe muito bem o sentido - levemente se nos apresenta como um pregão aplicável sobre quem muito apregoa e nada realiza.
Mas como Marco Polo, também Fernão Mendes Pinto sofreu muito do estigma da incompreensão e da incredulidade ao seu tempo e muito partiu da irredutível concepção do mundo na epoca. Se para o primeiro, o texto e os detalhes eram altamente improváveis para o tempo e assim facilmente arredados; do segundo não era muito por aí, pelo detalhe, mas surgia também como inconcebível a quantidade de países, de governantes, de aventuras e de obstáculos pelos quais passou saindo sempre ileso.
O homem era um couraçado! O homem sobreviveu a tudo, o homem era dessa fina prata e do mais temido e resistente bronze de que se fizeram os nossos conquistadores e aventureiros daquele império que forjámos em sangue e lágrimas. E sempre com o credo na boca, sempre com a infinita crença em Deus e nos seus imprevisíveis desígnios. Acompanhado na sua intermitente bem-aventurança pontuada milhentas vezes de desastres e naufrágios (em muitos dos quais Fernão foi o único ou um dos poucos sobreviventes), pela superstição na divina presença, reverência ao rei e sequioso de lucro, foi por aí que se abriu a ferida que alimentou o vermelho do lado esquerdo da nossa bandeira em séculos de domínio em todos os hemisférios.
Peregrinação é sobretudo um excelente documento de viagens à época, ornamentado profusamente de detalhes psicológicos e sociais que nos levam a compreender muito bem o funcionamento da sociedade medieval (fortemente estratificada, absolutamente dividida, cegamente religiosa e de sobreviventes tenazes). E é de leitura fundamental a qualquer português.
Lido por aí em dois dias de repente.
Esta é a expressão que saltita sempre da boca de um português quando se fala de Fernão Mendes Pinto, acompanhando-a ainda de um sorriso malicioso de que não se sabe muito bem o sentido - levemente se nos apresenta como um pregão aplicável sobre quem muito apregoa e nada realiza.
Mas como Marco Polo, também Fernão Mendes Pinto sofreu muito do estigma da incompreensão e da incredulidade ao seu tempo e muito partiu da irredutível concepção do mundo na epoca. Se para o primeiro, o texto e os detalhes eram altamente improváveis para o tempo e assim facilmente arredados; do segundo não era muito por aí, pelo detalhe, mas surgia também como inconcebível a quantidade de países, de governantes, de aventuras e de obstáculos pelos quais passou saindo sempre ileso.
O homem era um couraçado! O homem sobreviveu a tudo, o homem era dessa fina prata e do mais temido e resistente bronze de que se fizeram os nossos conquistadores e aventureiros daquele império que forjámos em sangue e lágrimas. E sempre com o credo na boca, sempre com a infinita crença em Deus e nos seus imprevisíveis desígnios. Acompanhado na sua intermitente bem-aventurança pontuada milhentas vezes de desastres e naufrágios (em muitos dos quais Fernão foi o único ou um dos poucos sobreviventes), pela superstição na divina presença, reverência ao rei e sequioso de lucro, foi por aí que se abriu a ferida que alimentou o vermelho do lado esquerdo da nossa bandeira em séculos de domínio em todos os hemisférios.
Peregrinação é sobretudo um excelente documento de viagens à época, ornamentado profusamente de detalhes psicológicos e sociais que nos levam a compreender muito bem o funcionamento da sociedade medieval (fortemente estratificada, absolutamente dividida, cegamente religiosa e de sobreviventes tenazes). E é de leitura fundamental a qualquer português.
Lido por aí em dois dias de repente.
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