District 9 é um filme genial dirigido por Neill Blomkamp e produzido pelo agora omnipotente Peter Jackson, que veicula e patrocina uma extraordinária primeira obra do primeiro. Fiquei surpreendido com o filme quando me mostraram o trailer - ainda mais quando percorri o site e então, quando finalmente o vi, foi a apoteose!
O filme é verdadeiramente incrível e um dos melhores que vi desde sempre do género. E que género é esse? Aqui está a questão, pois se temos sempre tendência quase inconsciente a compartimentar tudo, colando rótulos e etiquetas a tudo o que consumimos, também se torna cada vez mais usual que lidemos com objectos como estes: híbridos, sem um rótulo consensual, com uma mensagem clara transmitida por não tão claros mecanismos. O filme é sci-fi naturalmente, mas abraça tanto a questão política e social que se assume um novo género que me atrevo a chamar de Sci-fi Realism em evocação ao Neo-Realismo italiano que tinha como temática as classes operárias e à margem da sociedade.
A mensagem clara é a da incompreensão e segregação de um povo perante outro. A referência política e real é o regime opressivo e discriminatório do Apartheid e o povo que oprime é o humano e o oprimido um grupo de aliens que foi confinado a um distrito de subúrbio de Joanesburgo que se transforma num gueto militarizado onde os aliens - apelidados de Praws - se vão multiplicando até atingirem quase 2 milhões. Esta é a imagem mais forte e sobretudo sarcástica e cínica dado que é sobre um novo grupo de marginalizados que não os povos negros africanos que recai a própria teoria segregacionista que tanto os afectou. Aqui os extraterrestes são os oprimidos há já duas décadas tanto por negros como por brancos relevando que o ser humano é sempre devedor de incompreensões perante as diferenças.
Além do local filmado e do objecto do filme serem completamente originais, outra qualidade dos ETs é diferente da grande maioria de filmes sobre visitantes do espaço: eles são pacíficos e pretendem apenas voltar a casa - a nave mãe paira sobre a cidade mas é-lhes impossibilitado o regresso a ela por não possuirem o módulo de ligação.
O ET phone home em terras sul-africanas é o mote para um filme que surpreende também em efeitos especiais e nas referências fílmicas e históricas utilizadas - Cloverfield pelo suporte utilizado da câmara digital e pelo subterfúgio em que se desenrola a história, no primeiro era uma gravação que era posteriormente encontrada e que seria entremeada com uma gravação de férias e de um encontro/desencontro de um par amoroso.
Aqui é o recurso a terceiras testemunhas, seja pelas reportagens à distância dos canais de televisão, seja pelos documentários de trabalho de campo da MNU (Multi-National United - organismo militarizado responsável pelo controlo e policiamento do gueto onde os aliens estão localizados). O Apartheid está sempre presente seja na memória colectiva seja nos cartazes que segregam os aliens dos humanos. E a transferência necessária que a MNU tenta empreender (mudança em massa dos aliens do distrito 9 para um novíssimo mas não menos precário distrito 10 - mais afastado da cidade e por crescente insistência da população desta) é similar aos guetos e às transladações nazis.
Sharlto Copley está perfeito no seu papel do trapalhão agente da MNU, Wilkus e na verdade, toda a equipa de actores está tremendamente credível. Vejam o filme porque valerá bem a pena, está fantástico como se quer.
Visto nas Vasco Tardio Sessions ao Saldanha
Link | http://www.d-9.com
O filme é verdadeiramente incrível e um dos melhores que vi desde sempre do género. E que género é esse? Aqui está a questão, pois se temos sempre tendência quase inconsciente a compartimentar tudo, colando rótulos e etiquetas a tudo o que consumimos, também se torna cada vez mais usual que lidemos com objectos como estes: híbridos, sem um rótulo consensual, com uma mensagem clara transmitida por não tão claros mecanismos. O filme é sci-fi naturalmente, mas abraça tanto a questão política e social que se assume um novo género que me atrevo a chamar de Sci-fi Realism em evocação ao Neo-Realismo italiano que tinha como temática as classes operárias e à margem da sociedade.
A mensagem clara é a da incompreensão e segregação de um povo perante outro. A referência política e real é o regime opressivo e discriminatório do Apartheid e o povo que oprime é o humano e o oprimido um grupo de aliens que foi confinado a um distrito de subúrbio de Joanesburgo que se transforma num gueto militarizado onde os aliens - apelidados de Praws - se vão multiplicando até atingirem quase 2 milhões. Esta é a imagem mais forte e sobretudo sarcástica e cínica dado que é sobre um novo grupo de marginalizados que não os povos negros africanos que recai a própria teoria segregacionista que tanto os afectou. Aqui os extraterrestes são os oprimidos há já duas décadas tanto por negros como por brancos relevando que o ser humano é sempre devedor de incompreensões perante as diferenças.
Além do local filmado e do objecto do filme serem completamente originais, outra qualidade dos ETs é diferente da grande maioria de filmes sobre visitantes do espaço: eles são pacíficos e pretendem apenas voltar a casa - a nave mãe paira sobre a cidade mas é-lhes impossibilitado o regresso a ela por não possuirem o módulo de ligação.
O ET phone home em terras sul-africanas é o mote para um filme que surpreende também em efeitos especiais e nas referências fílmicas e históricas utilizadas - Cloverfield pelo suporte utilizado da câmara digital e pelo subterfúgio em que se desenrola a história, no primeiro era uma gravação que era posteriormente encontrada e que seria entremeada com uma gravação de férias e de um encontro/desencontro de um par amoroso.
Aqui é o recurso a terceiras testemunhas, seja pelas reportagens à distância dos canais de televisão, seja pelos documentários de trabalho de campo da MNU (Multi-National United - organismo militarizado responsável pelo controlo e policiamento do gueto onde os aliens estão localizados). O Apartheid está sempre presente seja na memória colectiva seja nos cartazes que segregam os aliens dos humanos. E a transferência necessária que a MNU tenta empreender (mudança em massa dos aliens do distrito 9 para um novíssimo mas não menos precário distrito 10 - mais afastado da cidade e por crescente insistência da população desta) é similar aos guetos e às transladações nazis.
Sharlto Copley está perfeito no seu papel do trapalhão agente da MNU, Wilkus e na verdade, toda a equipa de actores está tremendamente credível. Vejam o filme porque valerá bem a pena, está fantástico como se quer.
Visto nas Vasco Tardio Sessions ao Saldanha
Link | http://www.d-9.com
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