27 de nov. de 2008

Itinerário do Sal

Ontem fui à ópera. Quer dizer, não era bem ópera... Mas também não era um espectáculo musical. Parece que era ópera multimédia, pelo que ouvi dizer. Mas também já o vi caracterizado como ópera electroacústica.

Foi o primeiro espectáculo contemporâneo a que assisti, e confesso que ia um pouco curiosa.
A performance, a composição, os textos e a dramaturgia de Itinerário do Sal são da autoria de Miguel Azguime, português :), compositor, poeta e percursionista.

"Reflexão sobre a criação e a Loucura, a ópera multimédia Itinerário do Sal gira em torno da linguagem, da palavra-sentido e da palavra-som; ambas tratadas como dimensões da voz, da voz enquanto extensão do corpo e ambas totalmente integradas na construção cénica como projecção tangível da ressonância das palavras através do som e da imagem."
"Áudio, Vídeo e processamento electrónico em tempo real associados à projecção espacial da voz, da poesia, do gesto, da música e do traço, desenvolvem uma polifonia de sentidos, um contraponto de significados, uma exuberância de emoções."


É um espectáculo cheio de sons, e muitas imagens. A atenção do espectador centra-se no actor, no que ele vai dizendo bem como nos sons que vai produzindo
. Essa mesma atenção distribui-se por toda a sala de espectáculo, não à procura de algo que esteja a acontecer (porque nada acontece), mas sim do significado dos sons que estamos a ouvir.

Os sons. Num princípio sim, são palavras, mas que no fim se transformam em... Sons. Sons que vão representando algo. Algo que o autor quer transmitir e fazer o espectador sentir. Mas acho que o autor não espera que o espectador perceba tudo, mas sim, que sinta qualquer coisa. Espera que a peça em si “provoque” tudo, menos a indiferença de quem assiste.

E o que senti eu? Várias coisas. Senti frio perante os sons que se assemelharam ao barulho do vento, desconforto perante uma discussão em japonês, serenidade ao ouvir um poema em francês, e muito mais... Quando partes da peça eram em português, como me concentrava demasiado no significado das palavras (porque as entendia) não senti grande coisa. Interessante, não?

(Não sei se me fiz entender, mas quando escrevo "discussão em japonês" ou "poema em francês", quero referir-me ao que me soou... Porque até podiam começar numa língua mas poucos segundos depois tratava-se já de um conjunto de sons sem significado.)

Aqui ficam uns links para os interessados:

http://www.misoensemble.com/
http://de.youtube.com/watch?v=NN8xk7xTWLg&feature=related

O espectáculo aconteceu no pavilhão Kampnagel, outrora uma fábrica de gruas. O local tem por hábito apresentar programas um pouco mais alternativos e o espectáculo português não foi excepção.

26 de nov. de 2008

Casablanca

Decidi dedicar um fim-de-semana a clássicos do cinema. Um deles foi Casablanca, realizado em 1942 por Michael Curtiz.
A história passa-se na altura da Segunda Guerra Mundial, e gira em torno de uma história de amor, nascida e interrompida em Paris (aquando da sua ocupação pelo exército alemão), reencontrada em Casablanca.
Casablanca é na altura a cidade de passagem para várias pessoas fugidas de uma Europa em guerra que pretendem chegar até aos E.U.A., a sua última esperança para reencontrarem uma vida normal. Aguardam então, na maior cidade de Marrocos, por vistos que lhes permitirão viajar até Lisboa e daí até ao outro lado do Atlântico.
Quem não se lembra de já ter ouvido a célebre frase "Play it once, Sam, for old times' sake" dita pela personagem Ilsa Lund?
Um clássico é sempre um clássico. Uma história de amor é sempre uma história de amor.
Mas este filme não se deixa ficar por aí, no amor, e vai mais além conseguindo também histórias engraçadas, paralelas, como no caso do enredo entre o exército francês e o italiano que mesmo noutro continente disputam por poder.

Blindness


Finalmente estreou o filme pelo qual espero há tanto tempo!
Depois de acompanhar os acontecimentos das filmagens, através do blog do realizador Fernando Meirelles, fiquei super curiosa para ver o resultado final.
Blindness, baseado no livro "Ensaio sobre a cegueira" de José Saramago, mostra-nos o quão importante a visão é e o caos em que a vida se pode tornar quando não se vê: uma misteriosa cegueira branca cega toda uma população, com a excepção de uma mulher, e assim surge o desespero e, consequentemente, o caos.
Julianne Moore está fantástica como mulher do médico (a mulher que não cega) - até a sua pele pálida é perfeita para este papel. Gostei dos actores do grupo de personagens principais - acho que encaixam bem nas suas personagens. Tenho ainda que acrescentar o (meu adorado) Gael García Bernal no papel de Rei da camarata 3 - até a ser mau ele é bom ;-) ;-)
Adorei o livro, adorei o filme.
Muita gente diz que os filmes baseados em livros nunca são a mesma coisa (óbvio que não - impossível ter num filme todos os pormenores que um livro tem!), mas acho que este filme passa muito bem a ideia do livro e para mim valeu a espera! :-)
VER trailer.

24 de nov. de 2008

Linha de Passe


O filme Linha de Passe mostra-nos a dura realidade da cidade de São Paulo, no Brasil.
Entre as vidas de uma mãe e os seus quatros filhos, vamo-nos apercebendo dos diferentes pontos de vista da vida complicada que muita gente tem e dos sonhos que vão ficando para trás (ou não...).
Não é um filme agressivo como outros filmes que retratam a pobreza das grandes cidades brasileiras e chega a ter cenas bem cómicas, interpretadas pelo moleque mais novo da família.
O realizador, o brasileiro Water Salles, foi também quem realizou Central do Brasil e Diários de motocicleta, entre outros.

12 de nov. de 2008

COLLAPSING NEW BUILDINGS - LISTEN WITH PAIN



Chegou-me às mãos um magnífico doc dedicado aos 20 anos de Einstürzende Neubaten, o Collapsing New Buildings - Listen with Pain (a tradução do nome da banda é sensivelmente essa, Collapsing New Buildings). Agrada-me sobremaneira o som dos E.Neubaten, esse som puro, agressivo, improvisado, rock industrial feito com tudo o que se encontra à mão para lhe tirar som, percussão de metais e totalmente representativo dessa Alemanha suja e crua de pós guerra e de durante a Guerra Fria. Não significa que a banda deixou de ter significado depois de 89, nada disso, apenas carrega com ela essa identidade de um país e uma cidade - Berlim - retalhada e sempre vigiada, vivendo o espectro da espionagem e do escapismo.

Agora Berlim é o centro da Europa e o seu maior centro artístico e os Neubaten continuam a tocá-la e a levar esse dinamismo industrial para todo o lado (tocaram em LX este ano).

O que mais me surpreendeu neste filme foi - não a devoção incondicional de Nick Cave - mas o facto de eu ter descoberto que no primeiro concerto que vi deste no Porto, no já desaparecido festival Imperial, que quem acompanhava o australiano nos vocais era Blixa Bargeld, o frontman dos Neubaten!

Txs Andreia . visto em conformismo de constipação à noite em noite de semana.

11 de nov. de 2008

BELIO



Belio
é uma revista construída por um colectivo de artistas da mais diversa ordem (Dj, Vj, designers, músicos, street artists..) sedeada em Madrid e de peridiocidade quadrimestral e que se preocupa, além de desenvolver projectos próprios, de dar voz a outros tantos que vão surgindo por ali. n28 já por aí - não conheço local de distribuição em PT mas se conhecerem partilhem - capa da n14 em destaque.

http://www.beliomagazine.com/

Primeiro contacto com o folhear em BCN, Jan 2004

SINFUL

''That you may show your saving justice when You pass sentence, and your victory may appear when you give judgement, remember I was born guilty, a sinner from the moment of my conception''

Psalm 51:5

Mais uma curta de Eduardo Condorcet que se debate sobre a vertente pecaminosa da estrutura da Igreja - não por o ser de facto na essência, mas pelo contrariar as pulsões sexuais e humanas dos seus ministros. O filme é indolente e não serve a realidade portuguesa, certamente por cá as reacções a um filho nascido de um dos representantes de Deus na Terra teria outras repercussões e não se assume nem moralista nem nada, é ausente. É no entanto extremamente bem filmado e surge estruturado como uma pequena novela em jeito de ensaio. O ensinamento, a existir, acrescentamo-lo nós depois ao filme.

visto nas LOFF Sessions, Nov 08

CIGARETTE

Outra das curtas de Condorcet que encaixam dentro da (sua) ideia de Dogma 95 e que não se encontraram por aí em festivais de PT - prova de que há muito material interessante que circula de mão em mão falando-se de boca em boca e que nunca passa para uma tela maior do que a pantalha das casas de amigos e curiosos que vai encontrando.

O filme não é Dogma porque lhe falta o cumprimento a muitos dos cânones (cumpre a recusa a iluminação artificial mas recorre depois a acontecimentos fictícios - como o assassinato de um dos protagonistas, não possui a continuidade em tempo real preceituada e desconfio também que a utilização de bw é contrária ao Dogma 95) mas não deixa por isso de ser interessante, só não etiquetável como tal.

É um videoclip sem música, é cinema com cigarro, fumo, sexo e morte, é uma curta sobre o excesso, sobre o hedonismo e sobre o vício. Sinful é a marca de cigarro que a femme fatale deixa cair quando se afasta do local do crime depois de uma noite com o seu amante de ocasião. A beleza de uma curta é deixar-nos por vezes demasiados caminhos para que os trilhemos: seria realmente um amante de ocasião? Aquele último cigarro vem depois do prazer da morte acrescendo ao prazer do cigarro pós coital? Preenchemos nós os vazios que nos apresentam? Construímos sempre também a nossa própria história?

visto nas LOFF Sessions do MAL, Nov de 2008

A CASA E A ESCURIDÃO

Hoje compreendo os rios.

A idade das rochas diz-me palavras profundas.

Hoje tenho o teu rosto dentro de mim.

A última das curtas de Condorcet que tinha aqui comigo para ver faz tempo e que fui adiando da mesma maneira que se adia tudo o resto: com a esperança de amanhã o realizar. Este é dos melhores filmes que lhe vi pela complexidade exposta que se baseia em texto de José Luís Peixoto e aqui completada com imagens e sempre narrada evoluindo com essa como se fora videoart. Belíssimo - pudesse o dvd que me chegou às mãos estar em melhor estado e conseguiria apercebê-lo todo, será uma das poucas cópias que por aqui circulam.

visto em sessão contínua de catarse cinéfilo de domingo, pudessem todos os DVD dizer: estou vivo, funciono!

LIVING DRAW + LIVING DRAW DANIELA LEHAMNN PERFORMANCE + LIVING DRAW KATERINA VALDIVIA BRUCH PERFORMANCE



É sempre tão complicado inserir videoart num trecho dedicado ao cinema, não porque se desloque da ideia de cinema em si, da arte por si, mas pelo nosso entendimento condicionado do que é um filme e grosso modo videoart escapa a todos os cânones estabelecidos (argumento, personagens, linearidade espaço-tempo). É no entanto cinema porque é captado em película ou formato digital e não o deixa de ser por acharmos que tal, tão simples como isto.

Comento 3 peças de um artista (João Bruno) que se filmou em processo de criação, completando também as performances de outras 2 artistas; este trabalho em progresso é bem servido com as faixas pintadas que cobrem todas as paredes e que passam a ideia de obra inacabada. Seria como filmar um sonho que tivéssemos tendo - inadvertidamente algo no processo escaparia incontrolável à nossa interpretação que quereríamos controlada, puro e verdadeiro mesmo sendo fabricada a envolvente.

visto no Festival Primeiras 1as! do MAL
1ª peça no Príncipe Real, por debaixo da copa do cedro
2ª peça na Alameda, escadaria da Fonte Luminosa
3ª peça em Alfama, Largo de Santo Estevão

W.



W. não diaboliza nem elogia o ainda e pelo segundo mandato presidente americano, George W. Bush (vi o filme uma semana antes do feliz acto eleitoral que se me afigura histórico para a história do mundo no contexto em que nos encontramos). Não o critica nem realça traços especiais, antes deixa que Bush se ricularize pelo que é ou pelo que não é ou ainda pelo que pretende ser, numa magnífica interpretação de clone de Josh Brolin (já o tinha demonstrado em Esta Terra Não é Para Velhos).

O último filme do realizador da trilogia do Vietname (Nascido a 24 de Julho, Platoon - Os Bravos do Pelotão e Quando o Céu e a Terra Mudaram de Lugar) e de outros biopics sobre Presidentes (JFK e Nixon, Comandante não o é) não é de todo elogioso perante Bush Filho mas não na medida em que se coloca como crítico - nada disso, longe disso - mas sim na perspectiva de que precisamente pelo realizador não tomar posição assumindo-se como documentarista num biopic por si construído sobre um presidente decadente e já cessante, marca este mesmo como o fantoche controlado por um gabinete ditatorial que vai controlando a seu gosto os destinos do mundo cuja potência sobre a qual reina foi construindo enquanto a esboroa.

Essa é a maior contradição americana - construir enquanto de destrói é a melhor maneira de simplificar o que tem sido a regência americana em assuntos externos que neste filme encontramos bem demonstrada. Há que ver o filme para compreender melhor este monstro simpático, este dub-ya; assume-se interessante para debatermos um pouco mais muitas das questões que nos afectam e também nos desperta para nunca cairmos dormentes perante ameaças extremistas e intolerantes sempre presentes (mesmo num mundo ainda considerado maniqueísta e considerando-o como tal - ameaças até do nosso lado da barricada).

http://wthefilm.com/index2.html

visto no Cine Monumental, ao Saldanha LX em companhia do MAL

BERLIM




Julian Schnabel tem das obras mais consistentes que reconheço em cinema e tenho uma certa cautela em etiquetá-lo completamente como realizador – ele é sobretudo um esteta e, como Anton Corbijn (o tal do magnífico Control) deambula em áreas artísticas eminentemente assessórias do cinema: este fotografia, aquele pintura (tem trabalhos expostos no Berardo).

(...)

ler resto da crítica na TAKE n9 em http://www.take.com.pt

COMANDANTE



A figura charmosa do Ditador é tão atractiva para quem não é directamente reprimido que alimenta inúmeras peças de cinema de qualidade diversa, exterior à definição de ditador que cada um tem consigo. Ditador é alguém que dita, que controla, que se guia pela sede pelo poder e que se prolonga nele, sobrepondo-se a outros. E assim é Fidel ditador, independentemente das simpatias partidárias.

(...)

ler resto da crítica na TAKE n9 :: http://www.takecom.pt

6 de nov. de 2008

007: Casino Royale & Quantum of Solace


Anteontem vi o dvd do Casino Royale.
Gostei imenso e fiquei quase 24h em pulgas para ver a sequela Quantum of Solace - o título significa (+/-) "uma pequena quantidade de conforto" - nao foi bem isso que senti, mas quase, pois não fiquei entusiasmada como com o anterior...
Mesmo assim foi interessante "inserir-me" um pouco mais na vida deste agente secreto (creio que antes só tinha visto um filme do 007!).
Gostei de ver o Daniel Craig na pele de James Bond, assim como a Judi Dench no papel de M.
A bond girl do Quantum of Solace (Olga Kurylenko) não está tão presente como a do Casino Royale (Eva Green) mas ambas estão bem nas personagens que representam.

Creio que agora vou ali até ao clube de vídeo alugar todos os outros filmes do 007, pois parece que me tornei fã :)

5 de nov. de 2008

Leitura "in progress"

A minha professora de espanhol emprestou-me um livro de contos de um escritor espanhol.
Li o primeiro conto e achei-o tão interessante que resolvi partilhá-lo aqui.
Começar aqui. Continuar aqui. Acabar aqui.
E comentar aqui :)