Foi o primeiro espectáculo contemporâneo a que assisti, e confesso que ia um pouco curiosa.
A performance, a composição, os textos e a dramaturgia de Itinerário do Sal são da autoria de Miguel Azguime, português :), compositor, poeta e percursionista.
"Reflexão sobre a criação e a Loucura, a ópera multimédia Itinerário do Sal gira em torno da linguagem, da palavra-sentido e da palavra-som; ambas tratadas como dimensões da voz, da voz enquanto extensão do corpo e ambas totalmente integradas na construção cénica como projecção tangível da ressonância das palavras através do som e da imagem."
"Áudio, Vídeo e processamento electrónico em tempo real associados à projecção espacial da voz, da poesia, do gesto, da música e do traço, desenvolvem uma polifonia de sentidos, um contraponto de significados, uma exuberância de emoções."
É um espectáculo cheio de sons, e muitas imagens. A atenção do espectador centra-se no actor, no que ele vai dizendo bem como nos sons que vai produzindo. Essa mesma atenção distribui-se por toda a sala de espectáculo, não à procura de algo que esteja a acontecer (porque nada acontece), mas sim do significado dos sons que estamos a ouvir.
Os sons. Num princípio sim, são palavras, mas que no fim se transformam em... Sons. Sons que vão representando algo. Algo que o autor quer transmitir e fazer o espectador sentir. Mas acho que o autor não espera que o espectador perceba tudo, mas sim, que sinta qualquer coisa. Espera que a peça em si “provoque” tudo, menos a indiferença de quem assiste.
E o que senti eu? Várias coisas. Senti frio perante os sons que se assemelharam ao barulho do vento, desconforto perante uma discussão em japonês, serenidade ao ouvir um poema em francês, e muito mais... Quando partes da peça eram em português, como me concentrava demasiado no significado das palavras (porque as entendia) não senti grande coisa. Interessante, não?
(Não sei se me fiz entender, mas quando escrevo "discussão em japonês" ou "poema em francês", quero referir-me ao que me soou... Porque até podiam começar numa língua mas poucos segundos depois tratava-se já de um conjunto de sons sem significado.)
Aqui ficam uns links para os interessados:
http://www.misoensemble.com/
http://de.youtube.com/watch?v=NN8xk7xTWLg&feature=related
O espectáculo aconteceu no pavilhão Kampnagel, outrora uma fábrica de gruas. O local tem por hábito apresentar programas um pouco mais alternativos e o espectáculo português não foi excepção.
Um comentário:
Engracado, também fui `a ópera na semana passada :) Vi "Skellig" - uma ópera baseada no livro infantil com o mesmo nome.
Uma ópera contemporanea, uma história um pouco "spooky", uma boa representacao, mas nao fiquei convencida...
[A única parte cómica foi tudo menos apropriada para um público infanto-juvenil...]
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