30 de set. de 2008

Eminente e iminente

Para inaugurar o nosso «Português Perfeito», trago-vos o iminente e o eminente. Praticamente os dizemos da mesma forma e querem dizer coisas tão diferentes. Assim sendo, sem mais complicações ou demoras:
IMINENTE - pendente, que ameaça suceder de um momento para o outro
EMINENTE - alto, sublime, superior
O terramoto político está iminente.
O eminente Gabriel Garcia Marquez publicou mais um livro :)

25 de set. de 2008

ROCKnROLLA


RocknRolla mostra-nos Londres e as tramóias e jogos de corrupção que várias pessoas usam para alcançar os seus objectivos. Um "simples" assalto acaba por dar azo a muitas peripécias, algumas bem cómicas, e a história tem um desfecho surpreendente.
Não posso contar muito mais porque este filme só visto mesmo! E eu vou ter que o ver uma segunda vez, porque, com sotaques tão fortes, metade passou-me ao lado. :)
Mesmo assim gostei imenso da história e da forma como foi contada, da imagem, dos actores [fiquei de olho nuns quantos ;) ].
Li algures que este filme do Guy Ritchie não era tão bom como o seu Snatch. - eu não vi o Snatch mas então calculo que seja fantástico!

22 de set. de 2008

GOLDEN GUIDE

É uma revista gratuita de periodicidade mensal que vai já no seu segundo ano, número 13 e que se debruça sobre diversos temas escapistas como (e retirando literalmente do que se revela na capa) de arte | cultura | eventos . restaurantes | vida nocturna . lojas | desporto.

Ou seja, epicurista ao expoente máximo e em revista exposto, o meu género de publicação. Pena é que na Golden Guide seja tudo tratado e revelado duma maneira demasiado comercial, com excesso de marketing e umbiguismo pedante que não me agrada e que me faz pô-la de lado imediatamente quando a vejo por aí, solta em cafés, bares e lojas por LX.

Não encontrei nem site nem foto - partilho-a para não a omitir.

16 de set. de 2008

101 Reykjavík


101 Reykjavík fala-nos de Hlynur (Hilmir Snær Guðnason), um rapaz de 30 anos que vive em casa da mãe e que passa os dias a a ver filmes porno, surfar na net e beber nos bares de Reykjavik, capital da Islândia. Isto até ao dia em que a mãe convida a espanhola Lola (Victoria Abril), sua professora de flamenco, para passar o Natal com eles. Lola, sempre provocadora, questiona Hlynur e espicaça-o para mudar de estilo de vida. Acontecimentos inesperados fazem Hlynur questionar-se a si e tudo o que o rodeia e leva-nos a um fim surpreendente.
Este filme bem inteligente é uma comédia fantástica a não perder! Adorei!

10 de set. de 2008

Perfekt Deutsch

Pela primeira vez, apresento-vos neste blogue uma revista. Aliás, a única que ultimamente me tem acompanhado por estas terras germânicas: Perfekt Deutsch.
É uma revista mensal direccionada a quem tem interesse em aprender a língua alemã e que se encontre a residir na Alemanha. O público alvo é, portanto, o imigrante.
Tem por objectivo apresentar textos de fácil compreensão comparativamente aos jornais habituais nas bancas dos quiosques, ajudando quem está a aprender a língua alemã a ter contacto com informação sobre o mundo que nos rodeia, mas de uma maneira menos desmotivante, como acontece quando ouvimos o telejornal e não percebemos o que dizem (de tão rápido que falam e até pelo vocabulário que usam).
Para quem já viveu uma situação parecida, viver num país estrangeiro cuja língua se está a tentar aprender, sabe perfeitamente o quanto desmotivante pode ser, não nos sentirmos verdadeiramente integrados na sociedade do respectivo país de emigração. Uma revista que seja feita para Nós (sim, sou emigrante!) é uma maneira de nos sentirmos acolhidos e principalmente compreendidos!
Os textos abordam temas actuais nacionais e internacionais sobre economia, cultura, educação, turismo, etc.. Enfim, todos os temas que se pode encontrar num jornal "normal" mas redigido para Nós. Ao lado de cada texto existe sempre um quadro explicando as palavras do texto de difícil compreensão. Para além dos temas que já mencionei dão também informações úteis sobre políticas de controlo de imigração, que do meu ponto de vista, costumam ser claras, sucintas e úteis.
É acompanhada de exercícios gramaticais, de argumentação e até de simulação de situações de rotina, como p.ex., a ida a um médico.
Podem também oferecer como "brinde" uns pequenos glossários (de vocabulário mais "básico") acompanhado pela respectiva ilustração (p.ex.: vestuário, utensílios de cozinha, etc..).

De várias acções desenvolvidas na Alemanha para ajudar na integração dos imigrantes na sua sociedade, várias iniciativas são de louvar. Inclusivamente esta revista. Quando tive conhecimento desta revista pensei: e o que se desenvolve em Portugal para ajudar os imigrantes? O que será ser imigrante em Portugal? Sentir-se-ão bem acolhidos ou muito pelo contrário, apenas marginalizados?
Eu não sei o que é ser imigrante em Portugal, mas começo a perceber o que é sê-lo na Alemanha. E dou por mim a pensar naqueles que escolheram Portugal como "país das oportunidades" e acabo por... Não saber o que pensar.
Claro que ser emigrante tem os seus "momentos menos bons", mas no geral, o português é muito bem recebido por estas bandas! Pelo menos em Hamburgo! Misturamo-nos, damo-nos a conhecer, participamos, e principalmente não criamos problemas.

Aqui fica então uma perguntinha: para quando a revista "Português Perfeito"?

8 de set. de 2008

Caramel

O ambiente em que se desenvolve a história é basicamente feminino. Temos várias histórias que sendo diferentes entre si, com a sua respectiva protagonista, têm algo em comum: a cumplicidade e o apoio que as personagens apresentam entre si.

As poucas personagens que o filme tem são portanto principais: a dona do salão de beleza que tem uma relação amorosa com um homem casado e que espera pelo dia em que finalmente ele se separe da mulher (que nunca irá acontecer); uma lésbica que se encanta por uma cliente, casada; uma noiva que já não é virgem e que tenta resolver o seu problema através de cirurgia; uma vizinha, costureira, com os seus 60 anos que tem a seu cargo a sua irmã mais velha que empata todas as suas relações amorosas; uma cliente, actriz, também com os seus 50 anos que se recusa a envelhecer;

"Caramel" (o caramelo utilizado no método de depilação deste salão de beleza) representa assim o elo que as une, num momento onde partilham as suas alegrias e as suas angústias num ambiente de intimidade e de cumplicidade.

É um filme que retrata um Líbano diferente do que estamos habituados a ver.
Qualquer assunto relacionado com a sexualidade das personagens é tratado com muita delicadeza, mas que não deixa de conseguir transmitir ao público sentimentos como a paixão, amor e cumplicidade.
Os sonhos, as frustrações, as desilusões e esperanças que estas personagens (libanesas) vão revelando ao longo do filme, podiam ser os de qualquer mulher em qualquer lugar do mundo. Por muito distante que esse ponto seja do nosso país, mesmo com tradições e culturas diferentes, todas nós queremos o mesmo: ser feliz.

Nota: O filme foi dirigido pela própria actriz Nadine Labaki (que interpreta o papel de dona do salão), e foi apresentado no Festival de Cannes de 2007.

5 de set. de 2008

CARTAS A UM JOVEM POETA


Chegou-me às mãos um pequeno volume de Rainer Maria Rilke intitulado Cartas a um Jovem Poeta - via dádiva de amigo.

Já tinha lido outros volumes de Rilke - incluindo peças dedicadas a Rodin, obras de Rilke com ilustrações desse e ainda trechos da biografia dedicada a esse portento de escultor de quem foi secretário, mas foi este livrinho que me atingiu agora.

Este pequeno livro é recheado de belas observações que servem a Rilke para conduzir um jovem poeta que o tinha contactado para que o medisse (e aconselhasse) e que nos serve para perceber melhor o pensamento do escritor e a sua relação com as palavras escritas 'se sentir que pode viver sem escrever, não escreva'.

As cartas são uma colectânea do que melhor poderá ser transmitido a quem (quer e deseja) respira(r) literatura, palavras, textos, histórias, contos, poesia, ensaio e onde o autor renuncia aos críticos quase agressivamente e em que aponta a infância - os episódios de infância - como o melhor princípio, a mais recheada arca, a mais bem lembrada memória, o perfeito campo de colheita para as obras seminais de quem se quer escriba. Belo.

SUPERBAD

Nunca tinha eu visto um título realmente tão apropriado para um filme - esta peça aqui é fielmente revelada pelo titulado em letras ao carregar play: Superbad! Esta coisa é SuperSuperBad e nem me apetece colocar link ou acrescentar seja o que fôr, perder tempo a digitar uns poucos mais caracteres? Acha! Não! Um filme mau rotulado de diversão tem que servir pelo menos para um Domingo à tarde, e este nem os requisitos de Domingo de manhã preenche. Adiante.

Visto em reclusão intencionada - LX é feia quando não é desejada realmente.

O SEGREDO DE UM CUSCUZ

Nem vale a pena discutir a triste adulteração do título na sua passagem para português - até porque nem é das mais falhadas e o filme recompensa grandemente o que se perdeu no traduzido titulado.

O Segredo de um Cuscuz é um filme belíssimo de Abdel Kechiche que conta com a presença de inúmeros actores amadores que se representam em perfeição - deixam-se estar, vão ficando, deixam-se filmar. É uma cumplicidade tremenda que se estabelece entre nós e esta família multiracial e problemática como todas - paralelamente ao correr do grande rio da história principal (a luta de Habib em montar um restaurante num barco, ajudado pela mulher que deixou e apoiado pela mulher com que está), outros pequenos afluentes existem, diversos apêndices núcleos familiares com a sua espantosa riqueza e realismo das personagens. Arrisco em chamar-lhes não de personagens ou actores vestindo um boneco, mas pessoas, gente verdadeira, real.

Este filme é absolutamente mágico - vai do luminoso ao escuro, do absoluto ao vazio - mexemo-nos na cadeira tanto impotentes como sorrindo, pontapeia-nos com o feio que existe na vida como também nos embala com o que de mais extraordinário pode ser contado. E é tudo filmado próximo, o realizador não nos dá tréguas, nem tréguas a estas pessoas que se deixaram filmar no seu quotidiano - este filme é um documentário de câmara solta na mão, gesticulando perante as faces, os trejeitos, os defeitos e as imperfeições de quem lhe surge pela frente.

O ternurento momento da refeição em família onde se partilha o cuscuz feito pela anciã é o tempero da vida. Já a catarse da Julia, mulher traída e só um destroço, que grita chora se contorce para a tela durante mais de uns longos 10 minutos obriga-nos a tapar a cara, a afastar o olhar, a pensar em sair dali, a evitá-la. É um desconforto atroz que sentimos no que será possivelmente um dos momentos mais - simultaneamente - duro e intenso do cinema. A dança do ventre empresta-nos a festa da alegria após a dura batalha para erguer o restaurante (através de inúmeras barreiras burocráticas e obstáculos raciais - falamos de um árabe em França) até ao trágico final.

O filme é longo, são 151 minutos de montanha russa sentimental, experimentamos e compartilhamos de tudo o que se passa em tempo real à nossa frente. É como se nos vissemos, é como se nos pintassem, nos documentassem. Este é um magnífico documentário da vida -´e é para mim o melhor filme do ano.

Visto no cinema King, LX - um belo par que se acompanhava.

3 de set. de 2008

FREESURF MAG

FreeSurf é a primeira revista gratuita dedicada ao surf em Portugal seguindo o modelo da original hawaiana e replicando para Pt, com os ajustes necessários à nossa realidade, a revista que se multiplica um pouco por todo esse mundo de países fortemente aficcionados do desporto de beira de praia, ondas e pipes.

O site é muito fraco graficamente e muito pouco intuitivo; o suporte escrito tem bom conteúdo, contando com excelentes artigos não tão só de surf como de generalidades políticas e sociais (o que a abre a um público mais amplo) mas peca também pela pouco apelativa aparência gráfica. Mesmo com todos os downsides, é fantástico receber esta publicação - que vai já no 3º número, foto ao lado.

A periodicidade é bimestral e recolhe-se por aí, da Ericeira ao Supertubos, de Santa Cruz ao Amado, da Praia do Norte à Arrifana, de Sagres a Peniche, do Baleal a Ribeira de Ilhas - dos bares do Bairro Alto às lojas de surfwear.

CONTROL

Não poderia existir melhor homenagem ao grupo e ao homem-rapaz por detrás da banda que imortalizou temas como Disorder, Love Will Tear Us Apart e, my personal favourite, Transmission. E essa dedicatória teria que surgir como aqui é apresentada, a p&b, opção do fotógrafo realizador Anton Corbjin que pretende assim partilhar o seu imaginário de adolescente em que esta banda reside em cores cinza e a sombreados.

A banda é Joy Division e o homem Ian Curtis, brilhante e depressivo em toda a sua magnitude de adolescente (naturalmente) amargurado. A sua purga era a música e a banda aqui metralha riffs de guitarra frame a frame enquanto acompanhamos a curta vida de Curtis decaindo após cada ataque de epilepsia.

O filme é brilhantemente interpretado e filmado, este filme é perfeito em tudo! Sam Riley como Curtis está soberbo e em conjunto com os restantes actores que representam a banda, encarnaram mesmo nos Joy - nos momentos em que entra a música são eles que a tocam, eles que a cantam, eles que a levam, eles que se agitam, eles que conduzem, eles que nos encantam. E a personagem do Toby Kebbell está deliciosa como manager do grupo!

O filme é um biopic assumido de Curtis e da sua absoluta necessidade de CONTROLe sobre a sua doença e a sua vida. E a nós sobre a nossa.

E a realização, a realização! É do melhor que tenho visto e terá a ver certamente com o percurso de Corbijn: fotógrafo reconhecido que chegou a colaborar com os Joy e outras bandas e que realizou diversos clips para grupos como os Depeche, Nirvana e os Metallica. As opções são tão trabalhadas, o trabalho de direcção é tão de ourives, tão rendilhada o trabalho de câmara que este filme se assume como uma obra prima. A ver e ouvir absolutamente!

Visto no Primeiro Couch Film Fest, LX, Julho de 2008