5 de jan. de 2009

CAOS CALMO




Não se poderia encontrar título mais apropriado para um dos filmes que mais me cativou nestes últimos meses – e não, não farei lista de melhores ou piores de 2008, odeio listas desse género em que se cataloga quando o critério é tão díspar.

Em Caos Calmo Nanni interpreta um pai que fica viúvo num repente e se vê a braços com a pequena filha para educar. Enternecedor filme que parece surgir dessa relação simples de pai com filha, a complexidade surge na caracterização das personagens e no burilar das relações que se vão estabelecendo e recuperando: Nanni perde a mulher enquanto salvava outra de morrer afogada mas percebe-se entretanto que já a ia perdendo e com ela a filha aos poucos também. A dedicação extrema ao trabalho em detrimento da família vai-se consumindo quando Nanni se apercebe dessa perda progressiva. A filha não chora e o pai preocupa-se em protegê-la esperando a erupção, ocupando para isso o pequeno jardim defronte da escola da filha dias a fio, recebendo os elementos e tomando como ponto de fuga o rectângulo de janela da sala de aula da filha. Preocupado no porquê desta não se emocionar com a perda da mãe é ele próprio que se questiona do não se emocionar - assumindo que o comportamento da filha é o reflexo do seu e que nesse pequeno balanço sentimental é que se debate o passar dos dias.

Nesse pequeno mundo entre bancos de jardim, a escola, as árvores e o café, Nanni estabelece uma série de relações com passante e recebe visitas de amigos enternecidos, do irmão preocupado, da cunhada neurótica, de colegas de trabalho em sobressalto por uma luta de poder e até de um surpreendente Roman Polanski no papel de seu superior hierárquico.

Este jardim é uma metáfora da vida e dos encontros que vamos tendo e todos os seus pequenos cenários representam o que vamos levando e reconhecendo como belo e como importante - a atraente rapariga com o cão que o estuda de longe, o jogo do alarme do carro com o rapaz com síndroma de Down e a sua mãe, a filha que aparece e reaparece à janela a um dado momento, a uma dada hora, o fleumático dono do café, o momento de saída das crianças da escola e do aproximar dos pais sorridentes, os vizinhos dos prédios em volta e os professores e as crianças que acompanham a filha no interior da casa que estuda com o olhar horas após horas. Neste exterior que vai habitando estabelece-se uma serenidade, um pacífico estar que se contrapõe ao seu caos interior, esse caos calmo que se vai consumindo até que finalmente desague em lágrimas.

Nunca chegamos a conhecer a mulher e mãe que desapareceu, mas aproximamo-nos tanto deste homem que o tomamos como nosso, como nós, como tudo. E a cena com Polanski é dos mais magníficos momentos que vi no cinema - aquela bola de cristal, aquela inviolável bolha que se vai montando, indiferente a toda a vida que lhe gira em volta, é absolutamente extraordinário!

Numa óptica de classificações daria a este filme o máximo possível pois preencheu-me duma maneira que não esperaria possível ao entrar na sala de cinema - mas é um Moretti todavia, e deste sempre se espera esse toque e mesmo que o filme surja assinado por um Antonello Grimaldi é a Moretti que se deve o guião, a genuína interpretação e o toque estético e sentimental. Dos melhores filmes que vi até hoje e a não perder, sem dúvida!

Visto no cinemas UCI em presença de ti – mit dir andrea

Enlace | www.imdb.com/title/tt0929412

2 comentários:

Si disse...

Quero mt ver este filme!
Espero q nao o tenha perdido ja aqui...
bj

rah pha disse...

Este filme é dos mais belos que vi nos últimos tempos, é belíssimo!! Tão simples e tão puro, tão dócil e humano! Existe uma surpresa que ainda não sei se revelarei quando terminar a crítica.. E claro, apetece-me tanto rever o filme!