29 de mai. de 2008

Maus filmes ou más traduções?

Hoje escrevo para protestar!
Desde que ando pelas terras de sua Majestade que me apercebi que as traduções dos nomes de filmes são, muitas vezes, muito más. Alguns títulos tornam-se ridículos ao passarem para português!
Uma das estreias desta semana é um bom exemplo:
o filme que tem como título original "Forgetting Sarah Marshall" estreia em Portugal com o título "Um Belo Par... De Patins"! Não podia ser pior!! Ou podia?...
Eu sei que nem sempre é fácil encontrar a(s) melhor(es) palavra(s) para traduzir alguma(s) coisa(s), mas isto é inconcebível!
Já outra tradução de um outro filme me deixou chocada - ainda mais porque dá uma ideia completamente diferente do tipo de filme que é! "Little Miss Sunshine" em Portugal intitulou-se "Uma família à beira de um ataque de nervos". Um filme muito bom, americano mas independente, passa assim a parecer um qualquer blockbuster para teeenagers!
Melhor seria que, às vezes, deixassem o título original, como fizeram com o "Minority Report", que em Portugal teve o "privilégio" de não se tornar "O Relatório Menor" ou "O Relatório da Minoria"! ;)

26 de mai. de 2008

INDIANA JONES E O REINO DA CAVEIRA DE CRISTAL

Este novo Indiana Jones que serve de fecho à saga clássica (será mesmo o capítulo final?) que mudou a história do cinema, das primeiras obras blockbusters da geração dos movie brats - Spielberg + Lucas é um exagero no uso dos efeitos especiais e uma colagem a muita coisa que foi feita entretanto - reconheço aqui os odiosos Múmia 2 e a decadente última série e filme dos Ficheiros Sescretos.

Diverti-me a ver o filme, é verdade, mas perto do fim estava já tão farto de tudo e tudo era tão já mais que visto que já olhava para o relógio vezes seguidas, sinal manifesto de que estava a ser comido pela monotonia. O filme é pejado de referências aos filmes anteriores - detalhe bom para os seguidores, mas entremeia a descoberta do filho do explorador para terminar com um casamento! Indy pode ter um filho, mas casar-se? Um aventureiro não assenta!

Foi uma sessão morna quando se esperava mais e sugiro que o vejam se gostarem realmente do herói - mas preparem-se para o ver mais lento em corpo de duplo.

http://www.indianajones.com/site/index.html

Visto do Saldanha Residence, ao Saldanha, LX

25 de mai. de 2008

DISCURSO DO FILHO DA PUTA + HETEROFONIAS

Partilho dois livros que li simultaneamente do Alberto Pimenta: Heterofonias e o bravo Discurso do Filho da Puta.

Alberto Pimenta é uma figura sempre incómoda e insurrecta - opôs-se abertamente ao regime fascistas português e por isso foi perseguido; intelectual e lúcido, escreveu, encenou, ensaiou e realizou performances e actos teatrais. É das pessoas mais apaixonantes em Portugal e que sempre se preocupou em tudo questionar com perspicácia!

Estes dois livros sintetizam as duas maiores vertentes da obra literária de Pimenta: Heterofonias a teatral, o Discurso a crítica mordaz. O primeiro tem um ritmo contagiante, o segundo um ritmo perturbante e são ambos pedaços fundamentais da nossa literatura underground. Vejam o primeiro como é, um happening posto em palavras para o imaginarmos flutuante sobre um palco, uma poesia visual; o segundo como o derramar de ódios e crítica inflamada ao estado de ser português, um ensaio de sarcasmo.

Da imagem, não consegui encontrar nada do Discurso e tenho-o emprestado, logo ponho aqui um excerto de Heterofonias.

Smart People



Smart People, do mesmo produtor de Sideways, é um filme cómico que mostra que, às vezes, quem mais sabe, é quem tem mais a aprender!
Gostei muito de ver o Dennis Quaid como pai desta família estranha; a Ellen Page volta a estar bem no papel de teenager (como em Juno); o Thomas Haden Church (que também aparece em Sideways) é o irmão adoptado que , embora pareça o mais "perdido", afinal parece ser o que melhor sabe que caminho a seguir; a Sarah Jessica Parker mostra que também fica bem em filmes independentes; e o Ashton Holmes está bastante bem no seu papel de irmão que quer ser a "excepção" na regra desta família (só tenho pena que não apareça mais vezes, mas é precisamente por querer ser essa "excepção" que assim acontece...).

Em dia de estreia do Indiana Jones, resolvi que não queria perder este Smart People (era o último dia no cinema) e lá fui eu com o meu rapaz e mais um casal amigo. Quando chegámos
à sala, espanto!, estava vazia - fomos os únicos espectadores! Mas todos achámos boa ideia :) Tínhamos todo o espaço que queríamos e, como me disse o B., eu poderia fazer mil perguntas sem ninguém me mandar calar!! :) :)
Dá-me pena que os blockbusters (e alguns bastante maus) "passem"
à frente de tanto filme independente (e de boa qualidade!), mas é o que dá a publicidade...
E é por ser amiga do world cinema, que este Lendas e Legendas também existe
- para que filmes bons não se percam por aí. :)

24 de mai. de 2008

A MELHOR JUVENTUDE


Sugerido por amigos que o descreveram extasiados foi-me passado este filme por um desses amigos ainda não totalmente refeito da descrição que me deu: A Melhor Juventude - La Meglio Gioventù de Marco Tullio Giordana.

O filme é épico e essa sensação não chega só pelas seis horas de bom cinema que nos é servido, é extraordinário como se vê tudo de uma assentada, sem monotonia, em gosto crescente de partilha e convivência com a história cheia de percalços desta família italiana - acompanhamos a evolução recente de Itália, com as lutas estudantis de 68, as cheias de Florença, a luta contra a Mafia e o terrorismo de extrema esquerda das Brigadas Rossas. Debatemo-nos ainda ao longo do filme com todas as vitórias e derrotas constantes no ser humano, a irreverência da juventude, o amor, a traição, o suicídio, a decrepitude, a doença, a miséria..

Isto é cinema, belo e presente, merece ser visto e aviso, guardem seis horas porque não irão querer descolar de frente do monitor até ver a resolução de tudo!

Vista em sessão contínua de casa, após noite de borga - perfeito aperitivo para um qualquer domingo de dentro.

21 de mai. de 2008

Máscaras de Salazar


Este livro, veio parar-me às mãos na minha última visita a Portugal, emprestado. Trouxe portanto a mala cheia de livros e muitos deles nem sequer sei do que tratam... Vão ser surpresas para desvendar com o tempo.

Quando me mudei para a Alemanha, quis saber mais sobre o país que me acolhia. E assim fiz, pesquisei, li, e tirei algumas conclusões.

Sobre Portugal, julgava eu saber já bastantes coisas. As notícias da actualidade portuguesa sempre as acompanhei, diariamente, on-line. Mas, e sobre o passado? Um dia, olhei para a minha prateleira de "livros emprestados" e decidi que começaria a ler o livro de que hoje vos falo.

Foram 40 anos de regime Salazarista. Este homem existiu na nossa história, dos portugueses, não o podemos ignorar. Que herança nos deixou este homem? Que influências teve Salazar no Portugal de hoje? Que influência teve nos "filhos do pós 25 de Abril"?

Safou-nos da Segunda Guerra Mundial (com os seus jogos de poder) - "Eu da fome não livro os portugueses, mas da guerra livro", dizia Salazar. Mas não nos privou da Guerra Colonial nem de outros caminhos obscuros por onde nos fez passar: censura, prisões, desaparecimentos, tortura, marginalização e exílio de intelectuais, cientistas, políticos, sacerdotes, militares,...

"Tinha um prazer secreto em afirmar o contrário do que sentia – até o sentir. Era assim com o poder: sempre o negou e sempre o perseguiu; com a humildade: sempre a reivindicou e sempre lhe foi orgulhoso; com os delfins: sempre os incentivou e sempre os tolheu; com os amigos: sempre os paternalizou e sempre os distanciou; com os sentimentos: sempre os desejou e sempre os amputou."

(...)

"Quase tudo em Salazar é secreto, misterioso, insinuado – jogos de espelhos levam para o exterior projecções de si como se não tivesse existência humana, porque a tinha divina.

Olhares de lamina afloram-lhe o rosto ao saber que lhe chamam ditador, monstro, espantalho, devasso; ou santo, pai, sábio, mártir."

Fernando Dacosta in Máscaras de Salazar

Um livro a ler para reflectir.

19 de mai. de 2008

Wallace & Gromit: A close shave



Ontem, na reabertura do meu cinema favorito, vi uma curta-metragem da fantástica dupla Wallace & Gromit.
Já conhecia, mas é sempre divertido vê-los novamente!
Aqui fica uma parte de A Close Shave - infelizmente não consegui encontrar o resto... Mas no site oficial dá para ver mais algumas partes das curtas - é só clicar em watch online (mas não tem legendas...).

15 de mai. de 2008

Breve História de Quase Tudo


“Se há uma lição a tirar deste livro, é que temos uma sorte enorme em estar aqui – e quando digo “temos”, estou a referir-me a todo o ser vivo. Ao que parece, conseguir ter qualquer tipo de vida neste planeta é uma grande proeza. Claro que, como seres humanos, temos sorte a dobrar: não só gozamos o privilégio de existir como ainda temos a extraordinária capacidade de apreciar a vida e até, de muitas maneiras diferentes, de a melhorar. É um talento de que só muito recentemente começámos a ter consciência.
Chegámos a esta posição eminente num período espantosamente curto. Os seres humanos modernos em termos de comportamento – ou seja, pessoas capazes de falar, de criar arte e organizar actividades complexas – só existem há um período correspondente a 0,0001 por cento da história da Terra. Mas sobreviver, mesmo nesse curto período, tem exigido uma cadeia quase infinita de momentos de sorte.
Estamos, na verdade, no início de tudo. O difícil, agora, é termos o cuidado de nunca chegar ao fim. E isso, quase de certeza, vai exigir muito mais do que simples sorte.”

Bill Bryson in Breve História de Quase Tudo


Para mim, foi uma delícia ler este livro!
O autor percorre cronologicamente acontecimentos científicos da história do nosso planeta, mas não só! Conta-nos também sobre as pessoas que neles interviram, como funcionava a comunidade intelectual científica de cada época, e muito de vez em quando “quem era casado com quem” e “quem gostava de quem”. E explica como no mundo da ciência tudo pode ser descoberto por uma questão de acaso, sorte, enganos e/ou persistência, mas principalmente de muitos anos de trabalho. Teorias que deram corpo a outras teorias, décadas mais tarde... Mas fá-lo de uma maneira tão clara e divertida que nos leva a carregar o livro para todo e qualquer lado, na esperança de se ter 5 minutitos de pausa para se poder avançar mais umas páginas.
Este livro é o resultado de uma extraordinária pesquisa que durou anos, de volta de duas perguntas: “E como é que se sabe isto? Como é que descobriram?
Simplesmente, delicioso.

14 de mai. de 2008

BLU

Magnífica animação de street art argentina, BAires e Baden - partilho :

http://www.zappinternet.com/video/QeYbXerGoc/Muto

13 de mai. de 2008

MORTE EM VENEZA



















Morte em Veneza (Der Todt in Venedig) de Thomas Mann, é uma comovente descrição da decadência de um conhecido escritor - Gustav Aschenbach - por Veneza, apaixonado, fenecendo, decaindo, derrotando-se, mostrando-se, aniquilando-se completamente; partilhando connosco cada passo tomado pela cidade da Lagoa, Veneza e Lido (pelo existente mas com fictício nome de Hotel dos Banhos). Tadzio é a sua paixão e cada olhar conquistado representa uma vitória mais para o velho escritor, entre a sua solidão e os seus arrebatamentos de artista. Este ser assexuado cai e decai perante a doença - cólera asiática - e perante estoutra doença, talvez tão fatal, o amor.

Fui apontando as antíteses que fui encontrando - mas muitíssimas mais existirão:

Veneza vs Munique
Cólera vs Paixão
Juventude vs Velhice
Viagem vs Conformismo
Interior vs Exterior
Doença vs Amor
Efemeridade vs Perenidade

Outras observações interessantes que fui fazendo e apontando:

1_Segundo Cícero : Motus Animi Continuus - reside a eloquência nos momentos lúcidos de produção contínua
2_ Aproximação a Veneza por mar é algo que me lembra a descrição de Pessoa no seu livro-guia sobre Lisboa: What the tourist should see. Esta é a maneira ideal de nos aproximarmos e entrarmos numa cidade marítima.
3_Este é uma Lolita masculina, não por Nabukov, mas por Mann e sem a imensa reciprocidade e carnalidade, apenas platonismo
4_TInha visto primeiro o filme de Luchino Visconti que achei belíssimo - duro e trágico
5_Descrição perfeita de Veneza na página 97 - não irei transcrever, leiam!
6_Imagem do filme de Visconti, com Tadzio em 1º plano e Aschenbach em fundo.

O livro (e o filme) são belíssimos, são muito mais que uma mera atracção proibida escalpelizada ao ínfimo detalhe da aproximação e da tentativa, é a dissertação sobre o estado de alma do ser solitário e do pensamento do observador - escritor! Leiam + vejam!

11 de mai. de 2008

Breviário das Más Inclinações












„O romance “Breviário das Más Inclinações“ é dedicado a José do Risso (1923-1956) e apresenta-se como uma recriação da sua vida a partir de histórias que sobre ele se contam (espécie moderna de romance medieval, circulando em versão dactilografada o policopiada), lidas na romaria do Risso, antecipando o atendimento das preces.”

Linda Santos Costa in Público


Uma história rica em descrição de espaços rurais que caracterizam Portugal naquela época.

Os pormenores são tantos que se consegue sentir o cheiro das searas, dos riachos, da desfolhada, de baús de roupas antigas, do fumo das pinhas na lareira.

Envolto em crenças e outras representações, este romance conta como um sinal vermelho em forma de folha de carvalho nas costas de uma criança “É uma marca de desgraça”. Muitas histórias contadas, muitas cenas vividas, muita desgraça anunciada. Um livro que prende a atenção do leitor até à última página.

A obra do autor deste livro, José Riço Direitinho, é hoje reconhecida como uma das mais representativas da nova geração europeia.


8 de mai. de 2008

ZEITGEIST

Zeitgest the Movie é um documentário choque realizado por Peter Joseph (James Coyman) que recebeu o prémio de melhor filme – espírito artivista de 2007 dentro do Artivist Film Festival , que voltará a LX para o fim do ano, festival destinado a despoletar a discussão cívica e o envolvimento da arte com o activismo - social e político.

Zeitgeist [avanço cultural e intelectual do mundo em dado momento, neste caso referindo-se à nossa era] foi feito para nos provocar e para nos inspirar a reagirmos perante o que actualmente tem sido feito de errado na esfera da política mundial nestes últimos anos, rebuscando na antiguidade a origem do nosso condicionamento religioso e cultural actual.

O filme divide-se em 3 partes com uma nota introdutória em arranque. A primeira rebate a crença judaico/cristã e as suas amarras actuais. As duas partes seguintes preocupam-se em debater as grandes questões actuais (guerras, lobbies, monopólios comerciais, terrorismo, discrepâncias sociais..) revelando-as como produto de propaganda e de interesse económico por parte de uma elite mundial.

Os caminhos seguidos são inflamados e o resultado assustador. Vejam no link abaixo para retirarem todas as conclusões e discutamos isto por aqui.

Visto no recesso do lar (até se proporciona a outra compreensão do filme, não tão comedida)

http://zeitgeistmovie.com

http://video.google.com/videoplay?docid=-2282183016528882906

Dirty Dancing - I


Creio que toda a gente conhece o filme Dirty Dancing e que o terá visto várias vezes!
Eu vi-o, pela primeira vez, há 10 anos atrás (e o filme já fez 20 anos!!) numa viagem interminável, de autocarro, a Paris. Acho que vimos o filme umas 3 vezes em cada sentido! :)
No domingo passado vi-o novamente, mas desta vez num ecrã gigante no meio de uma praça aqui em Newcastle. O evento foi organizado pelo cinema "alternativo" aqui da área (que é onde vejo os filmes fantásticos de que ninguém ouve falar...), para comemorar o regresso ao antigo edifício, mesmo no centro da cidade, que tem estado em obras.
Adorei ver o filme há 10 anos.
Adorei ver o filme agora.
E o que foi delicioso, desta vez, foi todo o ambiente à minha volta!
Foi fantástico ouvir o público a cantar todas as músicas da banda sonora e a saber de cor-e-salteado os diálogos!
Mais fantástico ainda foi o entusiasmo com que o público "recebeu" a Jennifer Grey e o Patrick Swayze e os aplausos que estes "recebiam" quando dançavam! Até parecia que o estavam a fazer ali mesmo ao vivo!
Deixei-me levar pela onda e também aplaudi e dei gritinhos de fã :D
É verdade: I never felt like this before!
Tá, we had the time of that night, não foi? ;)
Seguem as fotos que uma fã fez o enorme favor de partilhar comigo!

Dirty Dancing - II

5 de mai. de 2008

RUNNING ON KARMA

Foi mais um que vi pelo Indie, nesta feita na Sala 1 do Londres (que com o King ali ao lado e mais umas quantas pequenas salas espalhadas por Lx vão sobrevivendo neste circuito independente). Este filme de Hong Kong (tramado aqui o gentílico - não faço ideia e não me apetece investigar, aceitam-se contribuições) foi realizado por Johnnie To e Kar Ka Fai e é uma ejaculação de ideias em avalanche imparável de fotogramas, são imagens e informação debitados febrilmente! To é inventivo e processa histórias e personagens num misto de filme de artes marciais, romance e folhetim de detective a Mach1!

A mim fez-me recordar The science of Sleep do Gondry e vejo nele algo como uma Amélie do delta, em analogia com os conteúdos apresentados em todos eles. Perde-se algo pelo irregular avançar da história e o desfecho não me entrou completamente, mas é de ver este desenfreado e luminoso conto de busca da espiritualidade!

Visto no Londres, Av. Roma, LX no INDIE Festival