20 de out. de 2008
O Crime do Padre Amaro
Li o livro há já alguns anos por recomendação de um amigo. Ontem à noite vi o filme, emprestado por esse mesmo amigo, e onde esse amigo representa um dos polícias (boa, Liminha!).
Corrijam-me se estou enganada, mas parece-me que é o primeiro post de um filme português no nosso blogue. Assim sendo, se é facto que não costumo ver filmes portugueses, vocês provavelmente também não. E fiquei deveras surpreendida com a qualidade dos actores! Nicolau Breyner, Cláudia Semedo, Hugo Sequeira, achei estes 3 realmente muito bons!
Do argumento nem vale a pena falar. É uma história do Eça, que tal como todos os grandes autores não se perde com o passar dos séculos. Contarmos uma história que seja actual passados muitos anos sobre ela, não está na caneta de qualquer um. O assédio sexual e a ausência de castidade dentro da Igreja Católica, a gravidez adolescente, o aborto, a mentira, a homossexualidade, a promiscuidade, a violação, mas também a cumplicidade e a lealdade... E uma coisa que acho muito interessante, que é a repetição nas nossas vidas, daquilo que vemos e temos em casa. Aquilo que os nossos pais nos mostram, a sociabilização primária. Como a Amélia repetia a vida dela ao exemplo da mãe e fruto da violação de um Cónego mentiroso e muito sacaninha.
19 de out. de 2008
Por que é que os homens nunca ouvem nada e as mulheres não sabem ler os mapas de estradas
Allan e Barbara Pease são um casal dedicado a assuntos da comunicação humana. Neste livro apresentam-nos algumas explicações sobre o porquê da relação homem/mulher ser como é: complexa.
Foi com base em estudos científicos, médicos, psicológicos e sociológicos (na grande maioria por universidades europeias) que este casal escreveu este livro, e por isso, mesmo que o título leve o leitor a pensar que se trata de mais um cliché, aconselho a ler primeiro o livro e depois tirar as suas conclusões.
Quando me ofereceram o livro, a indicação foi a de não ler o livro de seguida, mas sim, ir lendo de forma aleatória, uma página. A verdade é que este livro dá para fazer tal coisa, pois a maneira como foi organizado, dá para o ler até mesmo de "trás para a frente". É constituído por capítulos onde se podem encontrar parágrafos (que raramente ocupam mais do que uma página) relativos a uma certa questão. E como em cada questão aparece uma breve descrição do seu contexto, o leitor não se perde se optar por uma leitura mais baralhada. Eu pessoalmente, gosto de começar no princípio e levar o livro até ao fim, sem grandes interrupções. E o facto é que este livro prende a atenção do leitor até à última página pois aborda questões interessantes como: Porque tem as mulheres necessidade de falar?; Porque falam os homens consigo mesmo em silêncio?; Porque são as mulheres indirectas e os homens directos?; Porque saberão os homens para onde vão e porque as mulheres não sabem ler os mapas de estradas? E ao que parece a resposta está pura e simplesmente na química e na genética.
Por várias vezes os autores chamam a atenção para uma questão. Obviamente que nem todos os leitores vão conseguir identificar-se nos textos a si ou ao seu/sua companheiro/a. Os estudos foram feitos a um grupo de pessoas que não representam toda a espécie humana, obviamente, mas que podem representar com um bom grau de aproximação ao que se poderá chamar "comportamento médio" (em média, as mulheres agem de uma forma e em média os homens agem de outra forma).
Ao ler o livro, deparei-me com dicas interessantes que o homem e a mulher poderão aplicar para aperfeiçoar a comunicação entre si. E a verdade é que muitas já eu as utilizava quando era directora de obra e tinha de gerir equipas de trabalho. Desde cedo percebi que tinha de comunicar de maneira diferente àquela que estava a habituada, pois o meu "público" passara a ser de um só tipo: masculino.
A quem se aventurar à leitura deste livro, e em particular em alguns parágrafos, parece que pegaram na sua vida privada e a escancararam num texto público.
Bom, e mais não digo! Leia e descubra você mesmo do que falo!
11 de out. de 2008
Lord of War
No último ano os filmes que tenho visto têm servido para me questionar sobre muita coisa. A cada filme que via, despertava para mais um dos problemas que assombram a vida de qualquer ser no planeta Terra: guerras, crises económicas, fome, poluição, miséria, tráfico de armas, tráfico de pessoas,...
E filme a filme (livro a livro, conversa a conversa, imagem a imagem, etc.) comecei a tomar consciência de que a verdade que conheço, afinal nada significa. E que afinal os vários problemas que me desinquietam a mente, não são mais do que um só problema, constituído pelos vários problemas (que se relacionam entre si).
Não consigo escrever sobre o filme que aqui vos falo. Nao me saem as palavras. Porque tudo me parece demasiado pequeno perante a vida real.
O pensamento e a reflexão sobre certos filmes dói tanto, que no fim deste, perguntei apenas: "Não temos por aí nenhuma comédia romântica para ver e relaxar... E esquecer a realidade...?".
Lord of War, como se costuma dizer: Um filme a não perder!
Mais um filme que me vem mostrar que afinal eu já não posso salvar o mundo. E assim, já não quero salvar o mundo. Apenas posso/quero construir o meu mundo. E poder fechar os olhos quando a imagem não me agrada... Pois muito mais que isso não poderei fazer pelo mundo.
9 de out. de 2008
8 de out. de 2008
FUNNY GAMES (1997)
Este é um dos filmes mais aterradores a que assisti nos últimos tempos e será um dos mais intensos em terror psicológico, em horror de entre portas, em susto de momento e se o vi entre cem pessoas no exterior, pelo menos isso serviu-me para refrear o temor ~ eu, imaginativo eu, que me assumo como sugestionável imaginando sombras e coisas esperando por mim no escuro.
Vejo neste filme de Michael Haneke, na sua versão original austríaca de 1997 que seria refeita 20 anos depois nos Estados Unidos, referências e proximidade a outros tais como The Shining, Scream, Psico, Rosemary's Baby, Misery, Talented Mr Ripley ...
O filme envolve-nos numa atmosfera claustrofóbica, toma-nos de assalto, coloca-nos vulneráveis clamando impotência! A ver ~ previno que o susto pode ser fatal.
Visto no
CineLençol Alameda do MAL
com audiência de + de 100 pessoas.
Vejo neste filme de Michael Haneke, na sua versão original austríaca de 1997 que seria refeita 20 anos depois nos Estados Unidos, referências e proximidade a outros tais como The Shining, Scream, Psico, Rosemary's Baby, Misery, Talented Mr Ripley ...
O filme envolve-nos numa atmosfera claustrofóbica, toma-nos de assalto, coloca-nos vulneráveis clamando impotência! A ver ~ previno que o susto pode ser fatal.
Visto no
CineLençol Alameda do MAL
com audiência de + de 100 pessoas.
Género:
cinema de terror,
funny games,
lisboa,
mal,
michael haneke,
terror
Objecto quase
Objecto Quase é um livro de contos de José Saramago, editado pela primeira vez em 1978.
Dos 6 contos, o que mais me deixou agarrada ao livro foram Embargo e Coisas. Também gostei do conto Centauro, mas os outros têm uma escrita que é o que me fascina no Saramago: algo que acontece sem lógica (aparente), e que nos agarra às palavras enquanto não descobrimos o porquê de tal acontecer! É fantástico mesmo!
Acrescento uma passagem do conto Coisas que achei cómica pelo facto de ser surreal:
"Tempo houve em que o processo de fabrico tinha atingido um tal grau de perfeição, que os defeitos vieram a tornar-se raríssimos, a ponto de o governo compreender que não era conveniente retirar aos cidadãos utentes o gosto cívico e o prazer da reclamação."
Dos 6 contos, o que mais me deixou agarrada ao livro foram Embargo e Coisas. Também gostei do conto Centauro, mas os outros têm uma escrita que é o que me fascina no Saramago: algo que acontece sem lógica (aparente), e que nos agarra às palavras enquanto não descobrimos o porquê de tal acontecer! É fantástico mesmo!
Acrescento uma passagem do conto Coisas que achei cómica pelo facto de ser surreal:
"Tempo houve em que o processo de fabrico tinha atingido um tal grau de perfeição, que os defeitos vieram a tornar-se raríssimos, a ponto de o governo compreender que não era conveniente retirar aos cidadãos utentes o gosto cívico e o prazer da reclamação."
O CHEIRO DO RALO
Selton Mello é dos indivíduos mais interessantes e versatéis no cinema brasileiro da actualidade - vide tb o Tarantino's Mind neste blogue - e corre por aí que lutou afincadamente pelo papel de Lourenço neste hilariante filme de Heitor Dhalia de 2007.
Ele interpreta o demente e escatológico dono de uma loja de produtos usados atormentado pelo cheiro (vindo) do ralo da casa de banho que utiliza e que dá porta com porta com o seu gabinete. A cada pessoa que recebe Lourenço vê-se na necessidade - após o desconforto demonstrado por quem ali chega a vender, a vender-se - de justificar o cheiro que dali se solta.
Marionetando as pessoas, manejando as suas crenças e humilhando-as defecando-se, este Lourenço confunde-se ele próprio com esse cheiro que ele repetidamente rejeita e justifica - ele que terminou bruscamente o noivado com a noiva entretendo-se onanista defronte da televisão com programas de aeróbica 'Aye, aye!' e ele também que persegue carnal a bunda da rapariga da lanchonete que ironicamente o obriga a frequentar diariamente a latrina cujo cheiro o assola 'Eu dava tudo para ter essa bunda'!
Ele interpreta o demente e escatológico dono de uma loja de produtos usados atormentado pelo cheiro (vindo) do ralo da casa de banho que utiliza e que dá porta com porta com o seu gabinete. A cada pessoa que recebe Lourenço vê-se na necessidade - após o desconforto demonstrado por quem ali chega a vender, a vender-se - de justificar o cheiro que dali se solta.
Marionetando as pessoas, manejando as suas crenças e humilhando-as defecando-se, este Lourenço confunde-se ele próprio com esse cheiro que ele repetidamente rejeita e justifica - ele que terminou bruscamente o noivado com a noiva entretendo-se onanista defronte da televisão com programas de aeróbica 'Aye, aye!' e ele também que persegue carnal a bunda da rapariga da lanchonete que ironicamente o obriga a frequentar diariamente a latrina cujo cheiro o assola 'Eu dava tudo para ter essa bunda'!
O Cheiro do Ralo recorda-me os filmes de Guy Ritchie na sua essência suja e no descarnar da fealdade humana, é satírico e mordaz e ao se aproximar tanto ao fundo - vísceral - quase que tapamos o nariz com o cheiro desse ralo, enquanto aspiramos o ar fétido que julgamos cheirar, pela boca, de tão hilariante se revela.
Excelente filme ou como se diria por lá: isso aqui é de cu de rôla! A ver, rever, ver.
Excelente filme ou como se diria por lá: isso aqui é de cu de rôla! A ver, rever, ver.
Visto nas Loff Sessions na Sede do MAL , Lisboa
Depois revisto no Pátio Fradique, Lisboa, CineLençol do MAL
Web OCheiroDoRalo
Depois revisto no Pátio Fradique, Lisboa, CineLençol do MAL
Web OCheiroDoRalo
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Palombella Rossa
Nunca um filme me disse tanto. Nunca senti tanta cumplicidade em todos os pormenores, em todas as cenas. Parecia que estava a falar para mim.
O Palombella Rossa passa-se praticamente dentro de água, na piscina do Acireale, na Catania, Sicília. Michele Apicella, interpretado pelo realizador, Nanni Moretti, perde a memória num acidente de carro e tenta reconstruir a memória do que é durante um jogo de pólo aquático que dura uma tarde e uma noite (o que parece ridículo porque nenhum jogo dura tanto, mas foi porque o húngaro partiu a baliza e tiveram que a substituir).
O que lá tinha de mim?
PÓLO AQUÁTICO - As viagens, os autocarros, os restaurantes, os bolos que passam de mão em mão pela equipa, as palestras do treinador. Para nós era impossível estar tão caladas a ouvir o treinador como aqueles estavam, porque uma dúzia de mulheres enérgicas juntas raramente conseguem silêncio. Mas quando conseguem o silêncio marcam golo :)
AS PALAVRAS - Le parole sono importanti. Dois estalos (no filme, porque na rodagem foram mais!) que o Michele dá à jornalista por esta falar mal: cheap, kitsch,... E quem fala mal, pensa mal, vive mal.
COMUNISMO - Ho paura. Michele não consegue fazer um passe para o contra-ataque da equipa porque tem medo. Tem medo de ir para o centro (do campo/da vida política) porque é fundo. Che significa essere comunista? Numa altura de crise ideológica da esquerda italiana, ele tenta redescobrir o que é ser comunista. É ser igual mas ser diferente. É ser católico? Ou ser crente? Defender as massas? Defender a humanidade? Defender o sindicalismo? É ser um movimento de revolução?
Engraçado como me lembrei de uma ligação entre o pólo e a política que se passou comigo. Uma vez, num treino com um treinador de outra equipa, em experiência - ele mal me conhecia - me diz: «- Tu para seres assim revolucionária só podes ser bloquista!» Também... também é ser revolucionária.
ITALIANO - Várias vezes voltava as cenas alguns segundos atrás para ouvir novamente as frases em italiano e decorá-las. Me manca tantissimo parlare italiano.
NÁPOLES - A vista da piscina junto ao porto de Nápoles levou-me há quase 10 anos atrás (!!!) quando em 1999 lá vivi. O mar era dos poucos locais onde era fácil encontrar paz.
Normalmente gosto que passe muito tempo até rever (ou não, caso não valha a pena) um filme. Veria o Palombella logo à noite outra vez.
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