Li este livro há pelo menos um mês... Fui adiando e adiando escrever sobre ele. Sabia que não iria ser fácil. E não foi.
Mas depois lembrei-me do que os meus colegas do "Lendas e Legendas" sempre me disseram: "escreve sobre o que sentiste ao ler o livro". Na verdade, ao ler o livro senti... "Tenho de ler mais romances de ficção, pois deste gostei!" :)
A vantagem de se tirar um tempo para nós, fazer a tal "pausa criativa" (expressão dita pela minha professora de alemão: "Nao digam que estão desempregados! Digam antes que "fazem uma pausa criativa!" :D ), é sem dúvida termos tempo para ler bastante e informarmo-nos sobre o mundo que gira em nossa volta. Confesso que por vezes, após uma manhã de leitura de notícias sobre o mundo, desenvolve-se em mim um sentimento depressivo. Para mim, o mundo enlouqueceu de vez! Começo a pensar que o que preciso para me abstrair desse facto é "ter de me preocupar" com "problemazinhos": o stress do trabalho, uma molha que apanhei a caminho dos correios, o atraso dos transportes públicos, ter de pintar o cabelo outra vez (pois os brancos já voltaram a notar-se), ter de pagar 1,5 € por uma Bica, etc, etc... Apesar deste sentimento, o tempo que tenho disponível dá principalmente para começar a juntar as peças que vou recolhendo das minhas leituras e tomar consciência do que se passa à minha volta. Por esta consciência adquirida neste último ano, OBRIGADA "pausa criativa"!
Devo dizer que ver o filme "Zeitgeist",
já mencionado neste blog, ajudou-me a juntar mais umas pecinhas do puzzle. Aconselho a verem primeiro o filme e depois ler "1984".
Curiosidade sobre o autor: Eric Arthur Blair sob o pseudónimo de George Orwell.
Curiosidade sobre o título: "o título vem da inversão dos dois últimos dígitos do ano em que o livro foi escrito, 1948" (!!!).
Curiosidade sobre o livro: "Orwell lutou pela implantação do comunismo em Espanha. Mesmo não tendo êxito, foi convidado a visitar a URSS. Voltou estarrecido e escreveu "1984"."
Curiosidade sobre o filme: o livro foi adaptado para o cinema em 1984.
O cenário do romance, é um tempo de guerra permanente em todo o mundo, pois este foi dividido em 3 grandes super-Estados: a Lestásia, a Eurásia e a Oceania, que se combatem mesmo sabendo que nenhuma sairá vencedora.
Opto por escrever algumas frases do livro. Ora, reparem nisto:
"De facto, a natureza da guerra mudou. Em rigor, o que mudou foi a ordem de importância das razões pelas quais se faz a guerra."
"Com a criação de economias fechadas em que a produção e o consumo são interdependentes, desapareceu a luta pelos mercados, que constituía uma das principais causas das guerras anteriores, ao mesmo tempo que a posse das matérias-primas deixou de ser questão de vida ou de morte. Cada qual dos três super-Estados tem, à partida, território tão vasto que aí encontra praticamente todas as matérias-primas necessárias."
"É pela posse de regiões densamente populosas, (...), que as três potências se batem continuamente. (...) Os habitantes dessas zonas, reduzidos mais ou menos abertamente ao estatuto de escravos, passam continuamente de conquistador em conquistador, e são consumidos literalmente, como carvão ou petróleo, na corrida aos armamentos, na ocupação de mais território,...".
" ..., não se pode dizer que a força de trabalho dos povos explorados da zona densamente populosa seja verdadeiramente indispensável à economia mundial. Ela nada acrescenta à riqueza do planeta, pois utiliza-se em exclusivo todo esse trabalho para fins bélicos, e o objectivo de cada guerra resume-se sempre a ficar em melhores condições de empreender outra guerra."
"De facto, se todos tivessem igual acesso ao lazer e à segurança, a grande maioria dos seres humanos, que normalmente vivem embrutecidos pela pobreza, instruir-se-iam e aprenderiam a pensar pela sua própria cabeça; a partir daí, cedo ou tarde concluiriam que a minoria privilegiada não desempenhava qualquer função, e acabariam com ela."
"O problema residia em descobrir como manter em funcionamento as engrenagens da indústria sem aumentar a riqueza efectiva do mundo. Impunha-se assim produzir bens, mas sem os distribuir. E, na prática, o único meio de consegui-lo era a guerra permanente. A essência da guerra é a destruição, não necessariamente de vidas humanas, mas do produto do trabalho humano."
"Efectivamente, as necessidades da população são sempre subestimadas, do que resulta a escassez crónica de metade dos bens essenciais; mas tal surge também como uma vantagem. É política deliberada, mesmo aos mais favorecidos, mantê-los pouco acima do limiar da pobreza, porque a escassez generalizada aumenta a importância dos pequenos privilégios."
"Ao mesmo tempo, a consciência de se estar em guerra, e por conseguinte em perigo, faz surgir como condição natural e inevitável da sobrevivência a entrega de todo o poder a uma pequena casta."
Interessante. No mínimo faz-nos pensar, pelo menos a mim fez...
"Não restará lealdade, senão a lealdade ao Partido. Nem amor, senão o amor pelo Grande Irmão. Nem riso, senão o riso da vitória sobre um inimigo aniquilado. Nem arte, literatura ou ciência. Quando formos omnipotentes dispensaremos a ciência. Desaparecerá a distinção entre beleza e fealdade. Nao haverá curiosidade, nem o gozo de viver. Todos os prazeres que possam fazer concorrência ao partido serão destruidos. Mas haverá sempre (não te esqueças disto, Winston), haverá sempre a embriaguez do poder, cada vez mais intensa, cada vez mais subtil. Sempre, a todo o momento, a emoção da vitória, a sensação de esmagar um inimigo indefeso. Se queres uma imagem do futuro, pensa numa bota a pisar um rosto humano. Para sempre."
Até arrepia, não é?
No livro, como consegue o "Partido do Grande Irmão" tudo isto? Através de Ministérios: o Ministério da Verdade que trata da falsificação de documentos referentes ao passado (incluindo jornais, revistas,...); o Ministério da Paz que trata da existência de uma guerra permanente; Ministério da Fartura que trata de manter a fome dos que mais precisam; o Ministério do Amor que trata de espionar e controlar toda a população ( "Big Brother is watching you" ). Acrescente-se a esta lista uma "reforma oficial" da língua em que é "a primeira língua a reduzir os seus termos". O que não se conseguir definir, não existe, não se sente! (ex.: revolta, traição, mentira,...).
O lema do Grande Irmão é: "
Guerra é paz, Liberdade é escravidão, Ignorância é força." (não vos faz lembrar nada?)
Mas é um romance! E este livro tem todos os pormenores referentes a uma história de amor. Apresentou um final surpreendente, para mim na altura que o li, mas que agora o entendo. O seu final não poderia ser de outra maneira.